"AJUDANDO OS PAIS A ENTENDEREM MELHOR SEUS FILHOS. PAIS INFORMADOS. FILHOS MAIS FELIZES."





"A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida". (Sêneca)





"A educação é o que resta depois de ter esquecido tudo que se aprendeu na escola". (Albert Einstein)






"Talvez a essência da educação não seja entupi-los de fatos, e sim ajudá-los a descobrir a sua singularidade, ensinar-lhes a desenvolvê-la e depois mostrar-lhes como doá-la". (Leo Buscaglia)





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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O dodói vai passar



Por Luciana Schmidt


Fonte: Revista Baby & Cia, ed.17



Basta a mamãe ouvir o choro de dor de um filho para identificá-lo imediatamente e sentir junto com ele o mesmo desconforto. Joana conhece bem essa história. Nos primeiros três meses de vida da filha, ela praticamente não dormiu, tentando acalmar Julia no berço. “O médico me explicou que era cólica, e que, com o passar dos meses, a situação deveria melhorar”, conta Joana. Luiza quase chorou junto com a filha quando viu a pequena Carolina ter a primeira dor de garganta. “Foi de partir o coração. Mesmo com todos os cuidados, ela acabou pegando uma virose. Fui ao médico e voltei com uma receita na mão”, relembra a mamãe. Relatos assim são comuns. O remédio em mãos e as dúvidas continuam.



Pais de primeira viagem têm muita dificuldade de saber como proceder quando a saúde de seus filhos depende de uma medicação, principalmente se eles ainda forem nenês. Por isso, procuramos o pediatra Marco Antonio Iazzetti para esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto. Confira!



Depois de visitar o pediatra e dos pais se certificarem da necessidade do remédio, como fazer para o bebê engolir a medicação? Existe uma posição mais indicada para acomodar o pequeno?



O bebê deve ficar sempre sentado ou em pé (nunca deitado) para que o medicamento desça por gravidade, lentamente, e não haja risco de engasgo. Após pegar o volume prescrito com o dosador fornecido pelo laboratório fabricante da medicação, a mãe pode passar o conteúdo para uma seringa e colocar a seringa na lateral da boca e liberar o líquido lentamente.



E no caso de comprimidos?



Os comprimidos raramente são prescritos aos bebês. Porém, em alguns casos, a medicação só existe nesse formato, que é o caso, por exemplo, de alguns diuréticos. Nessa situação, pode-se utilizar os serviços de farmácias de manipulação (conceituadas, de preferência) e verificar a possibilidade de se produzir o medicamento em forma de solução. Caso não seja possível, o médico pode ensinar a mãe a diluir o comprimido e, dessa solução, oferecer ao bebê a dosagem correta.



Pode misturar remédios com alguma bebida para disfarçar o gosto ruim?



Não é recomendado utilizar bebidas para disfarçar o gosto, porque pode haver mudanças no pH da medicação, alterando sua disponibilidade ao organismo.



Qual o mais indicado: colher ou dosador?



O dosador sempre é o mais indicado, pelo fato de ser próprio para a medicação. As colheres são muito variáveis nas formas e nos volumes, o que pode implicar em doses excessivas ou insuficientes. Lembro também de que não se deve utilizar o dosador de um medicamento em outro, pois todo remédio tem o seu respectivo dosador, que difere pela quantidade de substância a ser ingerida.



Os remédios devem ser tomados antes ou depois da amamentação? Por quê?



Isso varia conforme o medicamento prescrito. Alguns devem ser oferecidos em jejum e outros, com estômago cheio. Sempre pergunte ao seu médico e veja as orientações do laboratório fabricante.



Dicas:



➜ Toda medicação deve ficar fora do alcance das crianças, de preferência, em armários fechados com chave;



➜ Nunca ofereça medicação sem a orientação do seu médico;



➜ Não se esqueça de verificar os prazos de validade, assim como o modo de armazenamento (alguns medicamentos necessitam de refrigeração);



➜ Nunca deixe o seu filho tomar medicamento sem a supervisão de um adulto;



➜ Explique sempre ao seu filho (se ele for um pouco maior) sobre a importância do medicamento. Se tiver gosto ruim, explique que é necessário. Dê água logo em seguida para amenizar a sensação ruim;



➜ Se a criança se recusar a tomar o remédio, insista e seja firme. Lembre-se de que se trata da saúde de seu bem mais precioso. Acredite que você está fazendo o melhor. Na dúvida, mamãe, escute a opinião de outro médico.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Normal ou Patológico na Infância e Adolescência?


Por Nino Dazzi e Anna Maria Speranza

Embora nem sempre o surgimento de sintomas represente o início de uma doença psíquica, as queixas e as mudanças de comportamento das crianças devem ser levadas a sério.

A adolescência e a infância são períodos de grandes mudanças físicas e psicológicas, em que o surgimento de um sintoma pode ser visto tanto como a expressão de uma transição normal como o indício do surgimento de uma psicopatologia. O que seria considerado problemático na vida adulta é plenamente aceitável na fase de desenvolvimento. Por exemplo, a instabilidade e as alterações rápidas de humor, típicas da adolescência, podem ser conotações diversas em outros momentos da vida.

Por isso, a avaliação e o diagnóstico na idade de crescimento sempre apresentaram grandes dificuldades. Do ponto de vista rigorosamente diagnóstico não é possível transferir os quadros clínicos e sintomas psicopatológicos dos adultos para a idade de crescimento – a não ser nos casos de patologias em estágio inicial que apresentam uma forte estabilidade ao longo do tempo, como os distúrbios de caráter autista. Alguns quadros observados em pessoas com mais de 20 anos simplesmente não parecem se apresentar nesta fase; outros são diagnosticados na infância e adolescência. É o caso da depressão infantil que pode se manifestar com uma forte irritação associada à expressão de um leque restrito de emoções.

Além disso, o significado psicopatológico de alguns sintomas clínicos varia e assume diferentes funções e sentidos ao longo do tempo. É por isso que com o passar dos anos assiste-se a uma descontinuidade da sintomatologia presente na idade de crescimento. Por outro lado, os quadros evolutivos manifestados por crianças podem apresentar uma linha de continuidade no âmbito dos processos psicopatológicos que os apoiam: neste caso, fala-se de “continuidade heterotópica” quando, apesar da diversidade das manifestações sintomáticas reveladas na infância e na idade adulta, é possível supor o mesmo processo patológico.
Um exemplo, são os distúrbios de ansiedade; um transtorno associado ao temos de ficar longe dos pais ou à fobia escolar pode, evoluir na idade adulta, para quadros como depressão, bipolaridade e distúrbios de personalidade. Daí a importância do diagnóstico ainda na infância que, nesta fase, em geral são mais difíceis de serem tratados.

Considerando diagnósticos específicos estreitamente ligados ao processo de crescimento, algumas manifestações aparecem apenas nessa fase e são próprias da interação de causas específicas que se reúnem para determinar um comportamento não condizente com a fase de desenvolvimento, como a impulsividade na adolescência. É possível concluir que existem aspectos da adaptação na idade de crescimento que podem parecer patológicos, mas na realidade são expressões da alternância dos processos nas várias fases do desenvolvimento saudável; um exemplo é a angústia em relação a uma pessoa estranha, expressa por bebês por volta do oitavo mês de vida. Trata-se de um fenômeno evolutivo normal, que indica a existência da capacidade de reconhecimento das figuras familiares. Manter essa reação na fase escolar e da adolescência, porém, seria problemático.

Para definir os caminhos que resultam na psicopatologia é fundamental considerar a influência tanto dos fatores de risco (que interferem na adaptação e aumentam a possibilidade de aparecimento do distúrbio ou doença) quanto dos de proteção (que promovem a adaptação e reduzem o impacto do estresse). Ambos podem ser próprios do indivíduo ou estar ligados ao contexto em que ele vive e intervir em vários momentos no decorrer do desenvolvimento. Para uma avaliação correta dos resultados de uma sintomatologia a longo prazo, esse aspecto torna indispensável que sejam consideradas as áreas de vulnerabilidade no que diz respeito à adaptação da pessoa –e não apenas seus sintomas.

Os aspectos mais relevantes da nova perspectiva introduzida pela psicopatologia do desenvolvimento são a consideração do ambiente social no qual a criança cresce e os aspectos evolutivos que caracterizam a expressão sintomatológica em cada faixa etária. A avaliação e o diagnóstico na infância devem considerar o fato de que, desde o nascimento, o bebê participa ativamente das relações sociais, marcadas por diferenças pessoais.

Por isso, o processo diagnóstico exige que, além de uma análise feita com base nas queixas, na história de vida do paciente e nos comportamentos manifestos, seja realizado um estudo profundo sobre o percurso do desenvolvimento, o funcionamento do sistema familiar, as características dos pais, os modelos de interação que influem na constituição e amadurecimento da criança. É preciso levar em conta também os aspectos ligados à afetividade, à linguagem, à cognição, às habilidades motoras e sensoriais.

Fonte: Revista mente e Cérebro, Ano XVII, Nº 213, Pg 50 – 53.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

As crianças e os animais

Por Adriana F. Pastor, Patrícia Oguma e Priscila Rufino

Cita Dotti (2005) que algumas pesquisas realizadas com pais de crianças que possuíram animais de companhia em sua infância apontam que as atitudes das crianças se tornaram mais intensas em relação à responsabilidade, sensibilidade e senso de comunicação com outras pessoas. Os aspectos como de cooperação, organização e de companhia foram identificados, facilitando o contanto com outras crianças e cria um ambiente saudável para brincadeiras. Estudos recentes mostram que as crianças entre 5 e 12 anos, que possuem animais de companhia, têm mais sensibilidade e compreendem melhor os sentimentos de outras pessoas tendo mais empatia. Crianças menores desenvolvem mais rapidamente a cognição e se tornam até mais espertas, com aumento considerável em seus pontos de QI. Podem desenvolver mais rapidamente sua coordenação motora, campo visual e sua inter-relação com o mundo exterior.
Outro aspecto como o senso de igualdade e diferença também é melhor compreendido pela criança. Em teste com crianças foi percebido que em seu relacionamento com o mundo exterior, com objetos inanimados, animais de brinquedo e animais vivos, há uma procura maior pelos animais vivos, independentemente dos brinquedos, barulhos e cores. Foi concluído que os animais vivos tinham um maior poder sobre as crianças, por responderem ao toque e estimularem os movimentos e a perseguição pela criança. O atrativo para a criança é a espontaniedade na interação, e ela sempre tentará outra vez, nem a televisão, nem o brinquedo e nem o vídeo-game farão o mesmo ou parecerão tão interessantes para ela. (DOTTI, 2005)
Dotti (2005) salienta que no mundo da criança e do animal há uma cumplicidade, pois eles estão sempre unidos pelos momentos que passam juntos, pelas brincadeiras, pelas confidências e pelo sentimento de sempre ter um amigo por perto. Há indícios de que esses laços trazem à criança uma estabilidade emocional e um amadurecimento compatível com sua idade, tirando-a do isolamento e gerando novas possibilidades. Alunos que possuem um envolvimento maior com os animais têm maiores índices de liderança e de altruísmo e menos índices de problemas comportamentais e ansiedade. É importante também o papel dos pais em incentivar as noções de dever e necessidade, para que a criança possa tomar consciência dos cuidados com o seu animal. Os pais devem encorajar a criança, por meio do animal, comportamentos responsáveis e de disciplina. Os animais apresentam grande oportunidade de envolvimento conjunto para com a família, onde momentos podem ser compartilhados de uma forma intensa por meio do contato físico e emocional com seu bicho de estimação.

Crianças, Psicoterapia e Animais

Segundo Serpel (1999 apud DOTTI, 2005) há estudos que indicam que as crianças utilizam seus animais de forma a se sentirem mais confortáveis quando se sentem chateadas, abandonadas, sozinhas e infelizes. Crianças com problemas de agitação, ansiedades, traumas em geral, podem ter uma grande ajuda dos animais, principalmente no que envolve a confiança entre terapeuta e paciente. Na maioria das vezes o que ocorre quando um animal está presente na sala e serve de apoio emocional, é que a criança sente-se acompanhada e cria uma cumplicidade afetiva com aquele animal, tornando-se menos ansiosa na hora de se abrir com o terapeuta, até o ponto de falar sobre suas próprias emoções de uma forma mais natural e também com mais propriedade.
Qualquer tipo de trauma pode prejudicar habilidades de socialização, pois gera desconfiança e insegurança. Já a relação com o animal é segura e isso traz um pouco de esperança para que a pessoa volte a acreditar nos outros e em suas relações. Uma série de técnicas podem ser utilizadas com a ajuda da presença do animal, trabalhando com os instrumentos que a própria pessoa fornece, trabalhando em suas virtudes e aspectos positivos podendo trazer à superfície fatos que com o decorrer da terapia poderão ser tratados. O terapeuta precisa criar uma atmosfera para que a criança encontre uma base de sustentação para seus problemas emocionais, e a partir daí aplicará diversas técnicas para realizar seu trabalho. Como por exemplo, aquelas que sofreram abusos ou foram negligenciadas, podem ter no animal um agente catalisador importante de suas emoções, o que poderá fazer a grande diferença, para que as mudanças e o crescimento possam ocorrer. Um dos fatores principais que o animal proporciona à criança é o senso do toque, onde ela sente que está doando e recebendo afeição, e é por causa dessa relação que o terapeuta, por meio do animal, consegue alcançar o paciente esteja ele onde estiver, e aos poucos conectá-lo com o mundo. (DOTTI, 2005)
Em entrevista realizada por Sanches (2007) com a veterinária Valéria Oliva, responsável pelos animais da Cão - Cidadão (Unesp), a melhora no comportamento agressivo dos pacientes é sensível. A iniciativa vai ser ampliada para crianças autistas ou com quadros severos de doenças mentais, e já é reconhecida por psiquiatras.
Para as crianças, brincar com bichos também é positivo até mesmo quando são animais de fazenda. Uma pesquisa realizada no final de 1999 na Áustria, mostrou que os pequenos que brincam com vacas, galinhas, porcos e ovelhas têm menos chance de desenvolver alergias e problemas respiratórios, como a asma. A explicação? O contato aumenta as células de defesa e deixa o corpo mais tolerante a bactérias e ácaros. (GULLO, 2000)
Segundo Dotti (2005) é de suma importância saber que há uma grande diferença nas relações com as crianças institucionalizadas e outras crianças pertencentes aos outros grupos que desenvolvem a TAA. A criança institucionalizada por motivo de abandono ou mesmo por que foi retirada de seus lares por violência contra ela, seja física, emocional ou psicológica, deve ter um tratamento mais aprofundado e conseqüentemente exigirá a participação de profissionais da instituição, juntamente com os profissionais do programa de TAA.
A relação da criança com o animal poderá ser de profunda dependência e vínculo extremo ou de descaso e crueldade. Ela pode se tornar agradável, cheia de atenção e afeto para com o animal e para com seu dono em uma interação intensa, ou se mostrar revoltada, arredia e projetar no animal toda uma carga emocional negativa, que se traduz em formas brutas e cruéis no convívio com os animais. Aconselha-se que essas crianças sejam analisadas e acompanhadas por psicólogos e pedagogos, para educar e aliviar a dor da rejeição e do abandono, continua o autor.
Para Poresky (1996 apud DOTTI, 2005) outro ponto importante é a relação de vínculo que se pode criar nessas condições. De qualquer jeito essa relação é criada, mas é essencial um monitoramento para que se crie um ambiente harmônico e não prejudicial para elas. Não é recomendável incentivar a relação apenas com um animal, pois possivelmente trará ansiedades e um profundo vínculo com ele. Mesmo que haja preferências, o que é normal, há de se abrir outras possibilidades e equilibrar as relações, com planejamento adequados para cada criança assistida.
Estudiosa do assunto nos seus 45 anos de profissão, Hannelori sempre observou a influência do animal dentro de uma família. Notava o quanto se guardava o luto quando o cão ou gato morria e as crianças que chegavam a adoecer sem seu bichinho de estimação. Por isso, há três anos resolveu fazer um trabalho voluntário que é uma verdadeira preciosidade. Leva animais para brincar com crianças deficientes do Lar Escola São Francisco, em São Paulo, e para fazer companhia aos doentes do Hospital da Criança, também na capital paulista. N. M. S., seis anos, internado no hospital às pressas por causa de uma intoxicação por remédio, adorou ser visitado pelos bichinhos. O garoto estava de cama, recebendo soro e bastante amuado com o susto. Assim que a psicóloga e a sua equipe apareceram no quarto ele mudou de ânimo e deixou transparecer um gostoso sorriso no rosto. A especialista afirma que as crianças se soltam e é possível notar uma melhora física e mental.(TERAPIA, 2007)
O portador de distúrbios psiquícos, V. R. G., vivencia problemas de sociabilização, concentração e aprendizado. Após seis meses de prática da equoterapia, o menino de apenas 8 anos, alcançou avanços físicos e mentais. A mãe, R. G., conta com entusiasmo que, logo nas primeiras semanas de tratamento, ele passou a agir de forma mais sociável, melhorando o relacionamento com os irmãos e também o jeito de andar, falar e aprendeu as cores. A psicopedagoga, Luciana Rocha, uma das profissionais que atua no seu tratamento equoterápico, explica que as atividades propostas para V. R. G. são focadas no aprendizado e na capacidade de concentração. Além da equoterapia, o garoto conta com o acompanhamento psiquiátrico, fato que contribui ainda mais para o seu desenvolvimento. (CRISTINA, 2007)
Em entrevista realizada por Gullo (2000) com Alexandre Rossi, a utilização desse tipo de terapia apresenta ótimos resultados com crianças doentes. Na presença de animais até os médicos conseguem se aproximar do paciente mais facilmente. Depois das visitas, o relacionamento e o humor dos pequeninos melhoram visivelmente. No rastro dessa idéia, o zootecnista começou há alguns meses a levar cachorros em asilos e nas casas de apoio do Hospital das Clínicas de São Paulo para brincar com crianças que sofrem de câncer. Essas instituições abrigam crianças doentes cuja família em geral não tem como mantê-las. Segundo ele, que também é especialista em comportamento animal, quando o cachorro chega, é uma festa. Tanto crianças como os velhinhos ficam visivelmente mais felizes. Alegria, aumenta os níveis de endorfina no organismo. Essa substância, que é nosso calmante natural, influi no sistema de defesa do corpo, deixando o paciente mais fortalecido, desse modo, reage-se melhor às doenças.
A. é um garoto, tem 5 anos e é portador da Síndrome de Down. Mas, quando está com a enorme e mansa Nagoya, uma rottweiler do canil Cambará, ou com Toby, um beagle, em São Roque, interior de São Paulo, o que se vê é uma criança comum, brincando ao ar livre, abraçando o cachorro, que retribui o carinho do garoto na mesma proporção.
Há alguns meses, A. e várias outras crianças, portadoras de diversas deficiências, de problemas emocionais graves à paralisia mental ou física, até autismo, têm encontrado no canil, junto aos animais, um elo com um mundo de movimento, expressões e descobertas que vêm surtindo efeitos sensíveis sobre sua saúde. Duas vezes por semana, essas crianças vão até o canil e aprendem, no contato com os cães, a fazer movimentos que até então eram quase impossíveis. Muitos aprendem os rudimentos da fala, ou pelo menos se esforçam para se expressar, e principalmente sentem-se aceitos e amados como são. Os cães não sabem que essas crianças são especiais. Sabem apenas que elas afagam, brincam e precisam de carinho. É uma relação muito rica, e que está surpreendendo pelos resultados positivos, afirma a pedagoga Marisa Solano, dona do Canil Cambará, onde cria rottweilers, beagles, labradores, cockers e weimaraners. Dona também da Escola de Educação Infantil Toquinho de Gente, em São Paulo, onde A. estuda, ela diz que foi justamente observando-o sendo estimulado pelos cães numa visita ao canil que teve a idéia de disponibilizar o espaço e seus animais para a terapia junto a crianças especiais.
Dirigida pela psicóloga Maria Lúcia Silveira Batista Pivelli e pela fonoaudióloga Silvana Banys, a Refazenda tem entre seus alunos crianças com diversos níveis de deficiência. Sem muitos dados teóricos com que trabalhar, as duas e a pedagoga Marisa Solano resolveram usar a sensibilidade e o estudo de caso a caso das crianças para verificar que tipos de estímulo os animais poderiam fornecer. Através da observação tanto das deficiências e dificuldades das crianças e do modo como elas se relacionavam com os animais elas foram estruturando exercícios e brincadeiras.
Foi assim, olhando cada criança e cada animal como indivíduos com suas próprias características, que se chegou a exercícios de estímulo aos movimentos. Exemplo: andar junto com o cão, ele sobre uma tábua e a criança ao lado, os dois se ensinando mutuamente, com a criança fazendo sem perceber exercícios psicomotores e de expressão. As crianças tentam se comunicar com o cão como poucas vezes tentam se comunicar com as pessoas. Em casos de deficientes visuais, por exemplo, trabalham com animais com guisos, o que desperta a atenção da criança e as anima a brincar. Os resultados que as visitas e as brincadeiras, sempre monitoradas pelas três profissionais e outras professoras da escola têm obtido são surpreendentes. Há crianças que há alguns meses nem ficavam em pé. Hoje se movimentam, com dificuldades ainda, dadas as suas próprias limitações, e outras que não conseguiam falar já emitem sons, chamam os cachorros. Enfim, brincando elas estão aprendendo a viver e a se socializar. (ANIMAIS, 2007)

Referências Bibliográficas:

ANIMAIS SÃO USADOS COM SUCESSO NA TERAPIA HUMANA. 2007. Disponível em: . Acesso em: 9 set. 2007.

CRISTINA, R. Cinoterapia: a terapia assistida por cães ajuda crianças, adolescentes e idosos a superarem seus limites. 15 jun. 2005. Disponível em: Acesso em: 10 ago. 2007.

DOTTI, J. Terapias e animais. São Paulo: Noética, 2005.

GULLO, C. Benefício animal: pesquisas mostram que cuidar de bichos ajuda no tratamento de doenças como câncer e depressão. Revista Isto é. 25 jan. 2000. Disponível em: . Acesso em: 1 ago. 2007.

SANCHES, M. Remédio em quatro patas. 2007. Revista Época. 21 mai. 2007. Disponível em: . Acesso em: 3 ago. 2007.

TERAPIA CANINA. 2007. Disponível em: . Acesso em: 18 ago. 2007.

Birra: a hora de dizer não para a criança

Por Angela Senra

Nem sempre é fácil lidar com os escândalos protagonizados pelas crianças, mas os especialistas garantem: pais que sabem dizer não e sustentam essa posição têm mais chances de ajudar os filhos a lidar com as frustrações e ter uma vida mais feliz.

Tudo começa com um chorinho quando o bebê não consegue satisfazer seus desejos – subir na mesa, pegar o controle remoto, não devolver o brinquedo do irmãzinho. Mas o primeiro mandamento para lidar com a birra infantil é não se desesperar. Gritar e perder o controle só reforça esse tipo de comportamento da criança, que entende a sua reação como parecida com a dela. Quando o pequeno percebe que conseguiu tirá-la do controle e chamou a sua atenção, desconfia que você acabará cedendo, especialmente se estiverem em público. E, aí, salve-se quem puder.

Segundo a psicanalista infantil e familiar Anne Lise Scappaticci, de São Paulo, desde muito cedo as crianças aprendem a arte da manipulação. “Da mesma maneira que sabem que agradam quando são boazinhas, percebem que podem usar a birra para conseguir o que desejam”, diz.

A teima faz parte do comportamento infantil, como uma tentativa de a criança demonstrar certa independência e expressar suas vontades. E aparece por volta de 1 ano e meio de idade.

Quando a criança tenta conseguir o que quer através de showzinhos, a dica é dar um pouco de atenção, sem estender a bronca por horas. Você pode dizer que esse “não” é o jeito de conseguir o que ela quer e por causa disso não vai ter mesmo. E não fique assistindo ao espetáculo, a menos que a criança esteja se debatendo e corra o risco de se machucar.

“Nesses casos, aconselho a abraçá-la e ir conversando até ela se acalmar”, afirma Anne Lise. Se o incidente ocorreu numa festa de aniversário, por exemplo, assim que cessar, volte para casa. Depois de um escândalo como esse, a criança não pode ser recompensada com diversão.

Segundo Vera Iaconelli, psicanalista e coordenadora do Gerar – Instituto de Psicologia Perinantal, se o ataque for muito intenso e você estiver no shopping ou no parque, vale levá-la até o carro para se acalmar e, se for o caso, nem retornar. O problema é acabar com o programa dos irmãos ou da família toda. O ideal é tirá-la do local e mostrar que a birra não levará a nada, que você não mudará de ideia.

“Quando os pais aprendem a lidar com o filho, as birras diminuem. Depois de uma ou duas vezes, ele aprende que a teimosia não adianta e para de insistir. Se isso não acontece, é porque a criança descobriu que fazer cena funciona e ela sempre ganha a parada”, diz Vera.

A maneira de lidar com esses conflitos é decisiva. “Os pais precisam ser firmes, mesmo que o filho chore e fique com raiva deles. Se cedem a cada vez que ele fica desapontado, acabam criando uma pessoa que não suporta a frustração, tem dificuldades de relacionamento e fica malvista pelos amigos, que muitas vezes se afastam”, alerta Anne Lise.

O que é normal e quando a birra é preocupante

O bebê está brincando, você precisa dar banho nele para sair, mas a criança não quer. Ele se rebela e chora. Nessas horas, o truque é mudar seu foco, chamando a atenção para objetos e pessoas de que ele gosta. Imagine se os pais ou os cuidadores sempre cederem a essa pequena rebeldia? Como conseguirão encontrar um momento para levá-lo à banheira? E quando ele ficar maior, serão os pais capazes de impor obediência?

A psicanalista Vera Iaconelli explica que a capacidade de aceitar regras vai se desenvolvendo ao longo do tempo e os pais não precisam fazer disso uma batalha, entrando em constante confronto com a criança.

“Alguns pais têm tanto pavor da birra que negam tudo, vetando qualquer chance de o filho se revoltar e descobrir por si só o que quer. O equilíbrio está em selecionar o não para coisas realmente importantes, como morder e bater nos outros ou nos objetos, colocar o dedo na tomada, atravessar a rua sem dar a mão.”

Se seu filho sempre se comporta como um birrento, atenção! “Apesar de ser frequente no universo infantil, o padrão indica um problema mais sério. É hora de procurar ajuda de um especialista. Do contrário, a birra fará a criança se fechar em uma ideia fixa, sem enxergar outras possibilidades”, alerta Anne Lise.

É difícil enfrentar um comportamento quando ele aparece pela primeira vez. E é muito comum a criança que nunca fez uma determinada birra um dia se atirar no chão e fazer manha, deixando os pais atônitos.

Uma das explicações para isso é a imitação. Ela pode ter visto o amiguinho fazer o mesmo, percebido que funcionou e tentar a sorte também. “O papel dos pais nessa hora é dizer não e tirar a criança do local. Ponto final. Não caia na tentação de passar meia hora falando, dando corda para uma atitude repreensível ou criticando a ação como se fosse a pior coisa do mundo”, diz Vera.

Birra: sermões não resolvem, insista nas regras


"Até os 5 ou 6 anos, a criança não consegue manter a concentração nas palavras por mais de 20 ou 30 segundos”, diz a psicóloga infantil e terapeuta familiar Suzy Camacho, autora do livro Guia Prático dos Pais (ed. Paulinas).

Por isso, é fundamental insistir nas regras. “Antes de sair de casa, converse com ela e deixe claro o que não será permitido. Dependendo da idade, ela pode esquecer, daí a necessidade de repetir a história muitas vezes, até que ela aprenda.

Antes de chegar ao supermercado, por exemplo, deixe claro o que será possível comprar entre as guloseimas de que ela gosta e quando poderá comer. Caso ela abra o iogurte ou o pacote de bolacha ainda na loja ou no carro, seja firme. Diga que não é hora nem lugar para comer aquilo e coloque o produto em local fora de alcance. “A estratégia é evitar o acesso fácil ao que é proibido e aguentar a birra, mesmo que se sinta constrangido por estar em local público”, afirma Anne Lise.

Muitas vezes, os pais acabam dizendo sim, sim, sim por pena de ver o filho sofrer. Quem nunca teve ímpetos de aceitar levar um brinquedo caríssimo só de olhar para a carinha de choro de seu filho, implorando no meio da loja, quando o combinado era não comprar nada?.

Segundo Suzy, no entanto, para criar pessoas equilibradas é preciso que os pais impeçam o filho de impor sempre sua vontade. “Quem não quer ter um ditador precisa dizer não. Crianças que nunca são contrariadas acabam se tornando adultos infelizes, irritadiços, agressivos, depressivos, já que o mundo não dá o mesmo sim incondicional dos pais”, afirma Suzy.

O limite, explica Vera, é uma forma de evitar a teima e deixar a criança mais segura. “A criança sem limite se sente culpada, sem chão, tem dificuldades para ficar longe dos pais. Quando eles são firmes, elas se sentem acolhidas e entendem que uma cena não os fará mudarem de ideia.”

“Se os pais forem coerentes com o que dizem e fazem, terão um filho disciplinado aos 7 anos e deverá seguir assim pelo menos até a adolescência, quando a rebeldia, uma nova forma de birra, ressurge em intensidade variada, dependendo de como a criança vem lidando com as frustrações”, conta Suzy.

Fonte: http://bebe.abril.com.br

A formação de uma pessoa

Todo bebê recém-nascido vive a impressão de que ainda está dentro da mãe e que ambos são um só. E levará alguns meses para que descubra a sua identidade.
Até completar dois anos, a base de sua felicidade estará na satisfação da fome, do sono e da sede. Com mais uma boa dose de carinho, nada vai retirá-lo da plenitude.

Mesmo assim, existem desconfortos que a mãe não pode evitar e que partem da própria inteligência da criança.
É difícil ser uma mini-pessoa em meio a um mundo de gigantes, entender que é absolutamente frágil e nada pode fazer ao ser carregado de mão em mão, feito uma sacola, de acordo com a vontade dos outros.

A sensação gera medo, de ser sucumbido, esmagado ou até comido e digerido. A velha história do Bicho Papão.
Testes psicológicos famosos da década de 60, revelaram que mesmo sem deixar um bebê ter acesso à infelicidade, monstros ou qualquer coisa que pudesse ser associada à opressão, a criança sonhava com bichos de bocas grandes, sedentos por devorá-las.

Descobriu-se que o tamanho da boca em relação ao alimento gera o pavor e que a própria pequeneza do bebê leva ao medo de ser comido.
Até que a criança se convence que não é normal nem possível que venha a ser devorada pelos adultos.

Uma dica é evitar morder a criança ou falar com ela mencionando qualquer coisa desse tipo. Qualquer suspeita, poderá fazer a criança regredir, atrasar o desenvolvimento e construir defesas que poderão ser repetidas pelo resto da vida, como ocupar a boca ininterruptamente, para ter a sensação de predador, falar ou se esconder atrás das palavras ou tratar a todos como ameaça, implorando, de alguma forma, para que sejam piedosos. A estes sintomas, dá-se o nome de bloqueio na fase oral.



No período de um ano e meio a dois anos, a criança tem a oportunidade de desenvolver o controle. Após descobrir novas sensações de prazer e estímulos de alegria, a tendência será de querer repetir o que é bom, mas nem sempre é possível.
Neste período, qualquer vontade parece doer, pois não há controle e uma pequena sensação de fome ou sede pode parecer uma tragédia.

Existe um instinto natural dentro da criança que deve ser buscado nessa hora e que a levará ao autocontrole e à elaboração das vontades, bem como à realização delas.
O problema é o adulto entrar como o super realizador e impedir que a criança desenvolva o controle.

Assim, cria-se o psicótico. Uma pessoa que entre um e dois anos teve sempre alguém para fazer tudo o que tivesse vontade e portanto não teve o que controlar.
Apesar de um curto período de satisfação nos primeiros meses de vida, as décadas que virão depois poderão ser muito doloridas. Pagando com uma vida de sofrimento os poucos meses de alegria numa fase que nunca irá lembrar.

A estrutura emocional, bem como a saúde mental, são formadas neste período, por volta de um ano e sete meses, segundo Freud e Lacan.
Quem desenvolve o controle fica com uma estrutura neurótica, quem não desenvolve, fica com uma estrutura psicótica.

Existe um terceiro caso, quando a criança tenta fazer alguma aberração para conseguir o que quer. Coisas teatrais como tentar se machucar, se bater, quebrar coisas ou agredir pessoas. Ao corresponder positivamente, dando o que a criança quer, estamos registrando na mente dela que ter prazer significa fazer algo anormal.
Assim são formados os pervertidos, maus cidadãos que são incapazes de se acostumar a uma vida comum, vendo somente na atrocidade o gosto do prazer.



Entre dois e quatro anos a criança entra na fase anal ao descobrir as fezes e naturalmente tende a interpretar que é uma parte sua que está se esvaindo. E pior, uma parte feia, suja e com um cheiro insuportável.
A situação se agrava ao perceber que as pessoas mudam de postura quando suja as fraldas, passando de um anjo cheiroso para um lixo apodrecido.
É comum a criança nesta época tentar controlar o esfíncter para nunca mais fazer cocô.
Na impressão de que as pessoas adultas não fazem, que ela é a única a ter este problema, que vai se derreter em fezes, e tudo mais que a imaginação puder construir.
A necessidade desta época é entender que as fezes não são parte do bebê, mas a comida que foi ingerida e está indo embora, que as outras pessoas também o fazem, não havendo nenhuma vergonha nisso.

É bom lembrar que o vocabulário de uma criança de dois anos é muito pequeno e que não adianta o adulto recitar um complexo discurso sobre qualquer assunto que o bebê não vai ser capaz de entender, pois a linguagem da criança é a mímica. Ela não ouve o que dizemos, mas repete tudo o que fazemos.

Um bloqueio na fase anal leva o indivíduo a ser controlado demais, muitas vezes abominando tudo que seja ruim na vida e tentando ser perfeito e impecável, como se fosse o único no mundo que não defecasse.
A relação entre o sujo e o limpo, bom e mau, é desenvolvida nessa época.


Quanto mais nojo a criança tiver do cocô, mais obstinada por limpeza ela será quando adulta. E quanto mais naturalidade ela tiver, menos preocupação com limpeza terá, podendo tornar-se uma pessoa suja, desleixada e preguiçosa. Caberá aos pais, nivelar estes conceitos.



Depois dos quatro anos, até os seis, a criança entra na fase de latência. Período em que se descobre o xixi e, assim, os órgãos genitais.
Para quem acabou de entender que a comida sai pelo ânus, não será difícil entender que o xixí é o líquido ingerido que está saindo. Mas o problema não é esse. O fato é que o menino tem um pênis e a menina não tem.
Vai ser absolutamente natural a menina ficar revoltada e se sentir inferiorizada, enquanto o menino se vangloriar por ter vantagens a mais.

No caso da menina, haverá a necessidade de criar uma compensação para essa diferença, que fará com que ela se torne mais inteligente, capaz e amadureça mais rápido.
Problema existirá se ela entrar na irreverência dos meninos taxando-a de aleijada, castrada e inferior. Assumindo esses rótulos, poderá mesmo criar uma sensação de impotência que acompanhará pelo resto da vida.

No caso dos meninos, o fato de ter um pênis vai necessariamente colocá-lo numa hierarquia superior às meninas, mas o tamanho irá fazer a diferença entre os meninos. Havendo um contraste com os adultos, principalmente o pai, que têm pênis muito maior.
A fase fálica desenvolve no indivíduo o senso de competição, a forma de se adequar ao mundo e a consciência dos próprios limites.
Uma fixação na fase oral pode levar uma pessoa a elevar o grau de agressividade, discriminações raciais, ou simplesmente colocar competição em tudo o que faz.
Também poderá desenvolver o complexo de castração, que tira do indivíduo a fonte das vontades, levando a apatia ou falta de autoconfiança.

Depois dos seis anos, a criança entra na fase de latência que vai, hoje em dia, até os dez ou onze anos, período da puberdade.

Fonte: http://www.maurogodoy.com.br

Ansiedade de Separação na Infância

As crianças com Ansiedade de Separação podem ser incapazes de permanecer em um quarto sozinhas, podem exibir um comportamento muito adesivo à pessoa de forte vínculo afetivo (normalmente a mãe), costumam andar juntos como uma sombra atrás dos pais, não só fora do lar como até por toda a própria casa e sofrem muito diante da possibilidade de ficarem separadas.

Sintomas de ansiedade são relativamente comuns em crianças e adolescentes, e a ansiedade patológica, incluindo o Transtorno de Separação na Infância é um problema clínico freqüente nesta faixa etária. Por estas razões, todos os profissionais que lidam com crianças e adolescentes devem estar conscientizados sobre as possíveis manifestações de ansiedade nesta faixa etária.

Esse apelo é especialmente dirigido aos pediatras, inegavelmente os primeiros a tomarem contacto com a criança ansiosa e, infelizmente, os maiores responsáveis pelo não tratamento da ansiedade nesses pacientes. Exceto alguma coisa do tipo maracujá, dificilmente são capazes (normalmente por ignorarem) de recomendar o tratamento correto.

O problema fica mais grave na medida em que as famílias jamais contestam a conduta do pediatra de seus filhos e, quando eles acham que criança não deve tomar nenhum medicamento psiquiátrico, o assunto está definitivamente encerrado.

As diretrizes a seguir podem auxiliar os pediatra ou médico da família médicos a determinar se há justificativa para um encaminhamento para serviço de saúde mental:

1. A criança apresenta sintomas que excedem o que seria esperado no desenvolvimento.

2. A ansiedade cria comprometimento significativo em alguma área das funções da criança.

3. Os sintomas de ansiedade persistem por um tempo inadequado.

Os transtornos ansiosos podem ser debilitantes para crianças e adolescentes e estressantes para as famílias, podem comprometer significativamente o desenvolvimento e o equilíbrio emocional. Por isso, o tratamento rápido e apropriado pode ser efetivo em aliviar os sintomas e ajudar o jovem a retornar à função normal.

A Ansiedade de Separação é, provavelmente, o transtorno ansioso mais comum em crianças. A característica essencial do Transtorno de Ansiedade de Separação é a ansiedade excessiva envolvendo o afastamento de casa ou de pessoas com forte vínculo afetivo, normalmente a mãe.

O medo é uma emoção humana universal e, tanto as crianças e adolescentes, quanto os adultos podem (e devem) experimentá-lo fisiologicamente. O medo até é benéfico na conservação da espécie, na medida em que serve de resposta adaptativa em muitas situações adversas.

Portanto, a simples presença de medo de separar-se da mãe, pai ou qualquer outra figura de forte ligação afetiva não é um sinal de patologia emocional, é um fenômeno normal no desenvolvimento infantil, existindo naturalmente dos 10 meses de idade até a idade pré-escolar. Mas, em outros casos, as reações de medo e ansiedade diante da separação ou perspectiva de separação podem comprometer a adaptação e o desenvolvimento infantil.

Para o diagnóstico de Transtorno de Ansiedade de Separação há necessidade de que a ansiedade diante da separação ou perspectiva de separação da figura de mais contacto afetivo (normalmente a mãe) seja exagerada, que a criança apresente algum sofrimento significativo ou algum prejuízo social, escolar ou de outra área importante de sua vida. Portanto, para o diagnóstico é importante que as crianças com ansiedade de separação tenham dificuldades em realizar suas atividades cotidianas normais, freqüentar a escola, ficar na casa de amigos, ir à excursões e, até, manter hábitos de sono normais.

As crianças com este transtorno experimentam um sofrimento excessivo quando separados de casa ou de pessoas de vinculação afetiva importante, bem como podem sofrer antecipadamente diante da simples possibilidade de futura separação. Quando os pacientes são separados da casa ou dessas pessoas de vinculação afetiva, precisam insistentemente saber de seu paradeiro e sentem necessidade de permanecer em contato constante, como por exemplo, através de telefonemas repetidos.

Embora teoricamente a Ansiedade de Separação possa ocorrer em qualquer idade, o transtorno é mais freqüentemente diagnosticado na pré-puberdade. Isso porque, possivelmente, em idades anteriores o problema possa ser menos valorizado pela família. A proporção entre meninos e meninas para a Ansiedade de Separação é pouco conhecida, embora alguns estudos epidemiológicos relatem mais casos femininos.

Dos 9 aos 12 anos as crianças com costumam suportar mais a angústia excessiva no momento da separação. Os adolescentes com o transtorno entre 13 e 16 anos podem recusar ir à escola e apresentar queixas físicas. Pesadelos sobre separação também são freqüentemente em crianças mais jovens.

Algumas crianças com Transtorno de Ansiedade de Separação sentem saudade extrema e chegam a sentir-se doentes (com febre, diarréia, vômito, etc.) devido ao desconforto por estarem longe de casa ou quando a pessoa de maior vínculo afetivo está ausente (viagens, trabalho...). Outros sintomas incluem preocupação fora da realidade com algo de mal que possa acontecer a si mesma ou aos pais, recusa em ir à escola, relutância em dormir sozinha ou longe dos pais, pesadelos repetidos com temas de separação e queixas físicas (cefaléias, dores de estômago, náuseas, vômitos) nos momentos de separação ou antecipadamente, diante da possibilidade de separação.

Esses pacientes freqüentemente expressam o medo anormal de se perderem e jamais reverem seus pais. Devido ao desconforto que sentem quando se ausentam de casa, costumam evitar de ir a qualquer lugar sozinhas. Pode, inclusive, haver relutância ou recusa a irem à escola ou outro tipo de atividade fora de casa, assim como, visitar ou pernoitar em casa de amigos.

Outro sinal marcante do transtorno de separação que essas crianças apresentam é a freqüente dificuldades para dormir sozinhas, sendo habitual a insistência para que alguém (normalmente a mãe) permaneça ao lado até adormecerem. Durante a noite podem ir à cama dos pais ou de outra pessoa significativa, como um irmão. Também pode haver pesadelos cujo conteúdo expressa os temores fantasiosos da criança, como por exemplo, a destruição da família, assassinato ou outra catástrofe.

Quando essas crianças com Transtorno de Ansiedade de Separação estão fora de casa, elas podem exibir um certo retraimento social, apatia, tristeza ou dificuldade para concentrar-se no trabalho, estudo ou em brincadeiras. Dependendo da idade, elas podem ter medo de animais, monstros, do escuro, de ladrões, bandidos, seqüestradores, acidentes automobilísticos, viagens aéreas e outras situações percebidas como perigosas para a integridade, sua própria ou da família. Preocupações com a morte e o morrer são comuns.

A recusa de irem à escola pode acarretar dificuldades escolares e até evitação social. As crianças podem queixar-se de que ninguém gosta delas e, muitas vezes, até afirmar que desejariam estar mortas. Quando extremamente perturbadas frente à perspectiva de separação, podem apresentar raiva ou às vezes agredir fisicamente a pessoa que está forçando a separação. Quando sozinhas, especialmente à noite, as crianças pequenas podem relatar experiências perceptivas incomuns, tais como, ver pessoas dentro do quarto, criaturas assustadoras que tentam pegá-las, sensação de olhos que as vigiam.

As excessivas exigências da criança em relação à atenção, carinho e amor freqüentemente se transformam em uma fonte de frustração para os pais, provocando ressentimento e conflito na família. Às vezes, as crianças com o transtorno são descritas como excessivamente meticulosas, obedientes e ávidas por agradar. Um humor depressivo em geral está presente nos portadores de Transtorno de Ansiedade de Separação, justificando um diagnóstico adicional de Transtorno Distímico ou Transtorno Depressivo Maior. O transtorno pode preceder o desenvolvimento de Transtorno de Pânico.

Diagnóstico

Os critérios de diagnósticos mais completos para Transtorno de Ansiedade de Separação estão no DSM-IV e são principalmente os seguintes:

(1) sofrimento excessivo e recorrente frente à ocorrência ou previsão de afastamento de casa ou de figuras importantes de vinculação
(2) preocupação persistente e excessiva acerca de perder, ou sobre possíveis perigos envolvendo figuras importantes de vinculação
(3) preocupação persistente e excessiva de que um evento indesejado leve à separação de uma figura importante de vinculação (por ex., perder-se ou ser seqüestrado)
(4) relutância persistente ou recusa a ir para a escola ou a qualquer outro lugar, em razão do medo da separação
(5) temor excessivo e persistente ou relutância em ficar sozinho ou sem as figuras importantes de vinculação em casa ou sem adultos significativos em outros contextos
(6) relutância ou recusa persistente a ir dormir sem estar próximo a uma figura importante de vinculação ou a pernoitar longe de casa
(7) pesadelos repetidos envolvendo o tema da separação
(8) repetidas queixas de sintomas somáticos (tais como cefaléias, dores abdominais, náusea ou vômitos) quando a separação de figuras importantes de vinculação ocorre ou é prevista

Outras Ansiedades na Infância e Adolescência

O Transtorno de Separação na Infância faz parte do grupo dos Transtornos Ansiosos, portanto, ela não é a única forma de apresentação da ansiedade em crianças e adolescentes. Outro quadro muito comum é a própria Ansiedade Generalizada.

A ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo e apreensão, caracterizado por tensão, estado de alerta contínuo, desconforto global e expectativa de algum perigos. As crianças podem não ter uma crítica acurada sobre a possibilidade de seus medos serem exagerados ou irracionais, mas, não obstante, sentem a ansiedade em toda sua plenitude. Via de regra a ansiedade pode ocorrer em varias condições psiquiátricas, tais como nas depressões, psicoses, transtorno hiperativo, etc. A causa dos transtornos ansiosos infantis é muitas vezes desconhecida e provavelmente multifatorial, incluindo fatores hereditários e ambientais.

A Ansiedade Generalizada tende a se manifestar em idade mais alta do que o Transtorno de Separação. Embora o Transtorno de Separação possa vir acompanhado de sintomas físicos, como vimos acima, as crianças de mais idade e adolescentes com Ansiedade Generalizada apresentam significativamente mais sintomas do que as crianças mais novas e exibem excessiva preocupação sobre muitos aspectos diferentes de suas vidas, normalmente sobre temas de preocupação mais apropriados aos adultos.

As crianças e adolescentes com Ansiedade Generalizada podem preocupar-se excessivamente com temas inadequados para a idade, como por exemplo, com sua própria competência, com o que vestirão no dia seguinte, como se sairão numa prova ou qual a área que escolherão na universidade. Os pacientes que se preocupam exageradamente com a própria competência costumam ter um marcante traço perfeccionista, mostram um desejo exagerado de sobressair na escola, nos esportes, nas relações sociais e na aparência física.

Talvez em decorrência destas características estas crianças costumam mostrar um grau acentuado (incomum para a idade) de autoconscientização. São comuns as queixas somáticas, inclusive cefaléias, desconforto gastrintestinal e tensão muscular, chegando, esses sintomas juntamente com a própria ansiedade, a produz sofrimento significativo e comprometimento de suas funções cotidianas.

Outro quadro extremamente comum entre as crianças e adolescentes é o Transtorno Fóbico Ansioso da infância. Trata-se, também, de um quadro relacionado às ansiedades e caracterizado pela presença de medos anormais diante de situações ou objetos específicos. Para ser considerado uma Fobia, o medo deve ser anormal e acompanhado de sintomas físicos.

Quando exposta ao estímulo fóbico, seja uma situação ou objeto (animal, etc) a criança ou adolescente sente-se mal, com vários sintomas físicos, chamados sintomas autossômicos, tais como sudorese, palpitações, tontura, sensação de desmaio, falta de ar, etc. Normalmente, tal como nos adultos com esse transtorno fóbico, as crianças e adolescentes evitam as situações e objetos que lhes causam fobia. À isso chamamos de comportamento evitativo.

Além das fobias à pequenos animais, injeções, escuridão, altura e ruídos intensos, as crianças de mais idade e os adolescentes apresentam um medo fóbico persistente e intenso de situações onde se julgam estar expostos à avaliação de outros, tendendo a se sentirem envergonhados ou humilhados. Normalmente essas situações fóbicas são de falar em sala de aula, de comer junto a outras crianças, de ir a festas, escrever na frente de outros colegas e até usar banheiros públicos. Quando é assim o quadro passa a se chamar Fobia Social. (Veja definição de Transtornos Fóbicos)

Uma variável desse quadro é classificado na CID.10 como F93.2, Distúrbio de Ansiedade Social da Infância, caracterizado pela presença de retraimento com relação a estranhos e temor ou medo relacionado com situações novas, ou inquietantes. Mas, diferenciando da Fobia Social, a CID.10 recomenda que esta categoria de diagnóstico só deve ser usada quando tais temores aparecem na primeira infância, são excessivos e se acompanham de uma perturbação do funcionamento social.

Fonte:
Ballone GJ, Transtorno de Ansiedade de Separação na Infância, in. PsiqWeb, Psiquiatria Geral, Internet, disponível em 2002.

Depressão Infantil

O Transtorno Depressivo Infantil é um transtorno do humor capaz de comprometer o desenvolvimento da criança ou do adolescente e interferir com seu processo de maturidade psicológica e social. São diferentes as manifestações da depressão infantil e dos adultos, possivelmente devido ao processo de desenvolvimento que existem na infância e adolescência.

A depressão foi considerada a principal doença psiquiátrica do século, afetando aproximadamente oito milhões de pessoas só na América do Norte (onde são feitas as principais pesquisas). A morbidade da depressão se reflete no fato de que os adultos deprimidos são 20 vezes mais propensos a morrer de acidentes ou de suicídio do que adultos sem transtorno psiquiátrico.

Tanto os quadros de Distimia quanto de Transtorno Afetivo Bipolar, podem surgir pela primeira vez durante a adolescência e o reconhecimento precoce de um estado depressivo poderá ter profundos efeitos na futura evolução da doença.

Apesar da tamanha importância da Depressão da Infância e Adolescência em relação à qualidade de vida, ao suicídio, às dificuldades na escola, no trabalho e no ajuste pessoal, esse quadro não tem sido devidamente valorizado por familiares e pediatras e nem adequadamente diagnosticado.

Embora na maioria das crianças a sintomatologia da Depressão seja atípica, alguns podem apresentar sintomas clássicos de Depressão, tais como tristeza, ansiedade, expectativa pessimista, mudanças no hábito alimentar e no sono ou, por outro lado, problemas físicos, como dores inespecíficas, fraqueza, tonturas, mal estar geral que não respondem ao tratamento médico habitual.

Na criança e adolescente a Depressão, em sua forma atípica, esconde verdadeiros sentimentos depressivos sob uma máscara de irritabilidade, de agressividade, hiperatividade e rebeldia. As crianças mais novas, devido a falta de habilidade para uma comunicação que demonstre seu verdadeiro estado emocional, também manifestam a Depressão atípica, notadamente com hiperatividade.

A depressão na criança e/ou adolescente pode ter início com perda de interesse pelas atividades que habitualmente eram interessantes, manifestando-se como uma espécie de aborrecimento constante diante dos jogos, brincadeiras, esportes, sair com os amigos, etc, além de apatia, adinamia e redução significativa da atividade. Às vezes pode haver tristeza.

De forma complementar aparece diminuição da atenção e da concentração, perda de confiança em si mesmo, sentimentos de inferioridade e baixa autoestima, idéias de culpa e inutilidade, tendência ao pessimismo, transtornos do sono e da alimentação e, dependendo da gravidade, ideação suicida.

Incidência

O reconhecimento de um quadro depressivo infantil e da adolescência como um transtorno que pode afetar pessoas desse grupo etário, reivindicada há mais de 30 anos pelo IV Congresso de a União de Paidopsiquiatras Europeos, de 1971 em Estocolmo (Annell, 1972), resultou na elaboração de critérios de diagnóstico para esse quadro, denominando-o de Transtorno Depressivo na Infância e Adolescência (DSM-IV, 1994).

Os dados de prevalência do Transtorno Depressivo na Infância e Adolescência não são unânimes entre os pesquisadores. Devido à diversidade dos locais onde os estudos são realizados e das populações observadas, vários índices de prevalência têm sido estabelecidos para a depressão na infância. Talvez as dificuldades devam-se às discrepâncias de diagnóstico, já que alguns consideram como Depressão alguns casos atípicos, como por exemplo, a Fobia Escolar, a Hiperatividade, etc.

Estudos norte-americanos revelam uma incidência de depressão em aproximadamente 0,9% entre os pré-escolares; 1,9% nos escolares e 4,7% nos adolescentes (Kashani, 1988 apud Weller, 1991). Mas esses números são demasiadamente otimistas.

Há mais de 30 anos, os estudos de Rutter, Tizarde e Whitmore (1970) começaram a aportar uma prevalência da Depressão Infantil em aproximadamente 1% das crianças de 10 anos. Dezesseis anos depois, Rutter (1986) volta a pesquisar e considera que os quadros depressivos são muito mais freqüentes na adolescência do que na infância. Essas suspeitas foram confirmadas mais tarde por Ciccheti, em 1995. Nesse ano Goodyar situa a prevalência do Transtorno Depressivo na Infância e Adolescência entre o 1,8% e 8,9%.

Embora seja difícil reunir dados sobre a incidência de Depressão Infantil, em recente artigo Jose Luis Pedreira Massa assinala que, na Espanha, a media de transtornos depressivos também pode situar-se em torno de 9% na população geral infantil menor de 12 anos, sendo algo superior na adolescência.

Sintomas

A Depressão Infantil não se traduz, invariavelmente, por tristeza e outros sintomas típicos. A diferença entre os momentos nos quais as crianças podem estar tristes ou aborrecidas com quaisquer fatores vivenciais que as molestem e a Depressão verdadeira está, principalmente, no tempo e na motivação para esse sentimento. A Depressão Infantil tem sido cada vez mais observada devido, em parte, à atualização conceitual e atenção médica crescente sobre esta doença.

Apesar da Depressão, tanto no adulto quanto na criança, ter como modelo de diagnóstico a conhecida constelação de sintomas, decorrentes da tríade sofrimento moral, a inibição psíquica global e no estreitamento do campo vivencial, as diferentes características pessoais e as diferentes situações vivenciais entre o adulto e a criança, farão com que os sintomas secundários decorrentes dos sintomas básicos sejam bem diferentes. O sofrimento moral, por exemplo, responsável pela baixa autoestima, no adulto pode se apresentar como um sentimento de culpa e, na criança, como ciúme patológico do irmão mais novo.

Nas crianças e adolescentes é comum a Depressão ser acompanhada também de sintomas físicos, tais como fatiga, perda de apetite, diminuição da atividade, queixas inespecíficas, tais como cefaléias, lombalgia, dor nas pernas, náuseas, vômitos, cólicas intestinais, vista escura, tonturas, etc. Na esfera do comportamento, a Depressão na Infância e Adolescência pode causar deterioração nas relações com os demais, familiares e colegas, perda de interesse por pessoas e isolamento. As alterações cognitivas da Depressão infantil, principalmente relacionadas à atenção, raciocínio e memória interferem sobremaneira no rendimento escolar.

Os sintomas mais freqüentes da Depressão na Infância e Adolescência costumam ser os seguintes: insônia, choro, baixa concentração, fatiga, irritabilidade, rebeldia, tiques, medos lentidão psicomotora, anorexia, problemas de memória, desesperança, ideações e tentativas de suicídio. A tristeza pode ou não estar presente.

Hoje em dia a ampliação da constelação sintomática atribuída à depressão infantil tem contribuído, sobremaneira, para a elaboração do diagnóstico e, por causa disso, cada vez mais os distúrbios do comportamento da criança estão sendo relacionados a uma maneira depressiva de viver.

A expressão clínica da depressão na infância é bastante variável. Baseando-se nas tabelas para diagnóstico, revistas por José Carlos Martins, podemos compor a seguinte listagem de critérios:

SINAIS E SINTOMAS SUGESTIVOS DE DEPRESSÃO INFANTIL
1- Mudanças de humor significativa
2- Diminuição da atividade e do interesse
3- Queda no rendimento escolar, perda da atenção
4- Distúrbios do sono
5- Aparecimento de condutas agressivas
6- Auto-depreciação
7- Perda de energia física e mental
8- Queixas somáticas
9- Fobia escolar
10- Perda ou aumento de peso
11- Cansaço matinal
12- Aumento da sensibilidade (irritação ou choro fácil)
13- Negativismo e Pessimismo
14- Sentimento de rejeição
15- Idéias mórbidas sobre a vida
16- Enurese e encoprese (urina ou defeca na cama)
17- Condutas anti-sociais e destrutivas
18- Ansiedade e hipocondria

Não é obrigatório que a criança depressiva complete todos os itens da lista acima para se fazer o diagnóstico. Ela deve satisfazer um número suficientemente importante de itens para despertar a necessidade de atenção especializada. Dependendo da intensidade da Depressão, pode haver substancial desinteresse pelas atividades rotineiras, queda no rendimento escolar, diminuição da atenção e hipersensibilidade emocional. Surgem ainda preocupações típicas de adultos, tais como, a respeito da saúde e estabilidade dos pais, medo da separação e da morte e grande ansiedade.

Além disso, tendo em vista a característica atípica da maioria das depressões na infância, alguns autores começam a pensar neste diagnóstico para outras patologias bem definidas, como é o caso do Déficit de Atenção por Hiperatividade, para certos casos de Distúrbios de Conduta (notadamente a rebeldia, oposição e agressividade) e para os Transtorno Fóbico-Ansioso. Supõe-se haver uma íntima relação entre todos esses quadros citados e, principalmente na ansiedade da infância, quer seja como co-morbidade ou como manifestações clínicas atípicas da Depressão Infantil.

Diagnóstico

O Transtorno Depressivo na Infância e Adolescência se caracteriza por uma sintomatologia afetiva de longa duração e está associado a vários outros sinais e sintomas vistos acima, tais como, insônia, irritabilidade, rebeldia, medo, tiques, mudanças nos hábitos alimentares, problemas na escola, na vida social e familiar.

Alguns outros sintomas podem acompanhar o Transtorno Depressivo na infância e adolescência em idade escolar, tais como, apatia, tristeza, agressividade, choro, hiperatividade, queixas físicas, medo à morte nele próprio ou nos familiares, frustração, desespero, distração, baixa autoestima, recusa em ir à escola, problemas de aprendizagem e perder interesse por atividades que antes gostava.

É tão comum o Transtorno Depressivo na Infância e Adolescência, a ponto de alguns autores recomendarem que, sempre que a criança manifestar tais alterações por um tempo prolongado, deve-se considerar a possibilidade desse diagnóstico. Entretanto, é muito importante determinar se esses sintomas estão, de fato, relacionados com um quadro depressivo ou se são parte das ebulições emocionais normais do desenvolvimento.

E, tendo em mente o fato de ser possível que muitos sintomas incluídos na relação apareçam naturalmente como parte das etapas normais de desenvolvimento da infância e adolescência, para se estabelecer um diagnóstico correto de Depressão na criança é necessário avaliar também sua situação familiar, existencial, seu nível de maturidade emocional e, principalmente, sua autoestima. Além das entrevistas com a criança, é muito importante observar sua conduta segundo informações dos pais, professores e outros colegas médicos ou psicólogos, atribuindo pesos adequados a cada uma dessas informações.

O diagnóstico da Depressão na Infância tem sido feito em bases predominantemente clínicas, muitas vezes usando-se os mesmos critérios usados para a Depressão do adulto, apesar do quadro ser algo diferente nas crianças, tanto quanto mais jovem for o paciente.

Examinando-se a criança, nem sempre encontramos os sintomas claros e francos que descrevem seu estado emocional interno. Um esforço de bom senso e perspicácia deve ser dedicado ao exame clínico, buscando aumentar a possibilidade da criança menor ser compreendida quanto aos seus sentimentos, apesar de tais sentimentos serem de difícil identificação. Em muitos casos, observamos apenas uma maior sensibilidade emocional, choro fácil, inquietação, rebeldia e irritabilidade.

As mudanças de comportamento na criança são de extrema importância, tão mais importante quanto mais súbitas forem. Assim, crianças anteriormente bem adaptadas socialmente, passam a apresentar condutas irritáveis, destrutivas, agressivas, com a violação de regras sociais anteriormente aceitas, oposição à autoridade, preocupações e questionamentos de adultos. Esses comportamentos podem ser decorrentes de alterações depressivas. Quando essas alterações não são graves o suficiente para serem consideradas Episódios Depressivos podemos chamá-las de Disforias.

As Disforias, que são alterações do humor, são encontradas comumente no cotidiano e não têm, obrigatoriamente, uma conotação de doença. Tratam-se de respostas afetivas aos eventos diários, caracterizando-se pela brevidade do quadro emocional sem comprometimento das condutas adaptativas, sociais, escolares e familiares. Na realidade as Disforias seriam apenas momentos de tristeza, angústia e abatimento moral que surgem em decorrência da problemática existencial normal e cotidiana, tais como as correções dos pais, desinteligências com irmãos, aborrecimentos na escola, etc.

A diferenças entre as Disforias e a Depressão seria em relação à evolução benigna das Disforias, o que não acontece quando há importante componente depressivo. A recuperação das vivências traumáticas e estressoras é mais demorada e sempre há algum prejuízo da adaptação. Grosso modo, podemos dizer que as Disforias são mais ou menos fisiológicas na lide com as adversidades diárias, enquanto a Depressão seria uma maneira patológica de reagir à vida.

Os quadros que se apresentam como Fobia Escolar, caracterizada pela evitação da escola, por dores inespecíficas, febre sem causa aparente, e outros sintomas obscuros para fugir das aulas, podem refletir altos índices de ansiedade e depressão. Deve-se avaliar a presença de baixa autoestima, perda de prazer e, muitas vezes, até ideação suicida. Podem ser encontradas também, nesses casos, expectativas negativas e pessimistas da vida mas, como a criança tem grandes dificuldades para expressar esses aspectos vivenciais de sua vida ou de seu mundo, essa investigação tem sido muito difícil.

Os sintomas físicos e somatizados também podem ocorrer na criança depressiva. Cerca de 30% dos pacientes deprimidos apresenta diminuição de apetite e 30% refere aumento, principalmente nas meninas. Insônia inicial (dificuldade para começar a dormir) também esta freqüentemente presente (60%) e, um pouco menos freqüente, a clássica insônia terminal, que é caracterizada pelo despertar muito cedo.

Na fase pré-verbal a criança deprimida pode manifestar o humor rebaixado através de expressões mímicas e do comportamento. A inquietação, o retraimento social, choro freqüente, recusa alimentar, apatia e alterações do sono podem ser indícios de Depressão nesta fase.

Na fase pré-escolar as crianças podem somatizar o transtorno afetivo, o qual se manifestará através de dor abdominal, falta do ganho de peso, retardo no desenvolvimento físico esperado para a idade, além da fisionomia triste, irritabilidade, alteração do apetite, hiperatividade e medo inespecíficos.

Dos 2-3 anos até a idade escolar a Depressão Infantil pode se manifestar ainda com quadro de Ansiedade de Separação, onde existe sólida aderência da criança à figura de maior contacto (normalmente a mãe), ou até sinais sugestivos de regressão psicoemocional, como trejeitos mais atrasados da linguagem, encoprese e enurese.

Na fase escolar, o cansaço, a dificuldade de concentração, as alterações da memória, a astenia e adinamia são as complicações da Depressão Infantil que comprometem muito o rendimentos escolar e aprendizagem (veja Dificuldades Escolares). Essa confrontação continuada com o fracasso acaba fazendo com que o nível de autoestima também se comprometa, podendo levar a criança a apresentar desde isolamento social até Transtornos de Conduta (pseudo Transtorno de Conduta, na realidade).

Para essas alterações afetivas possíveis na primeira infância a Organização Mundial de Saúde (OMS) elaborou uma série de critérios de observação. Foi um grande passo na descrição das manifestações de transtornos psicológicos nesta faixa etária, dividindo-os em duas categorias:

1. Reação de Abandono (ou de Dor e Aflição Prolongadas), que é específica das situações onde falta a figura materna ou de um cuidador afetivamente adequado, e
2. Depressão da Infância Precoce.

A socialização da criança em idade escolar com Depressão Infantil pode estar comprometida e se manifesta através do isolamento social, das dificuldades de relação interpessoal, com sintomas de alteração afetiva (irritabilidade). Na primeira infância, entretanto, se detectam estas alterações quando o lactente é pouco comunicativo, confundido normalmente com um bebê muito bonzinho ou, por outro lado, podem manifestar a depressão com irritabilidade (bebês irritáveis, com tendência a a hiperexcitabilidade), ou ainda, com aversão à estranhos (bebês que estranham demasiado as mínimas mudanças em seu entorno).

O bebê afetivamente sensível pode ter dificuldades em relação ao apego. O apego é um impulso primário como parte de um processo de seleção natural, portanto, inato. Existem importantes diferenças individuais no estabelecimento das condutas de apego e na elaboração dos vínculos. O apego é uma resposta de busca de proteção necessária à sobrevivência da espécie.

A afetividade normal se relaciona com um apego seguro, desde a lactância até três anos e meio mas, certos padrões inseguros de apego podem ocorrer quando existe alguma tendência depressiva. O padrão de apego desenvolvido desde tenra idade será uma das molas mestras para futuros sentimentos de conforto e segurança determinados pelas relações posteriores.

Quando os lactentes são separados bruscamente de sua figura de apego, como é o caso de uma hospitalização precoce, ou mesmo um abandono, suas reações tendem a seguir um padrão semelhante ao processo de luto do adulto. Assim, em uma primeira fase, o lactente bruscamente separado pode manifestar ira e desespero.

Na segunda fase dessa separação a criança tende a ficar apática, quase imóvel. É a fase de desapego ou indiferença. Nessa etapa a criança não manifesta mais emoções diante do reencontro com a figura com a qual antes era apegado. Essa experiência de perda não se relaciona com as necessidades de alimento, mas de calor, carinho ou contacto.

Dois fatores têm especial significado para estabelecer as características da separação: o temperamento da criança e as características pessoais da figura materna. Quanto mais sensível afetivamente for a criança, maiores os prejuízos futuros que a separação ou abandono proporcionarão. Veja abaixo a sucessão de acontecimentos de Dor e Aflição que podem ocorrer durante a separação ou abandono.

1. Reação de Dor e Aflição Prolongadas:

Este estado pode se manifestar por qualquer etapa da seqüência: protesto, desespero e desinteresse.
1. A criança chora, chama e busca ao progenitor ausente, recusando quaisquer tentativas de consolo por outras pessoas.
2. Retraimento emocional que se manifesta por letargia, expressão facial de tristeza e falta de interesse nas atividades apropriadas para a idade.
3. Desorganização dos horários de comer e dormir.
4. Regressão ou perda de hábitos já adquiridos, como por exemplo, fazer xixi e/ou coco na roupa (ou cama), falar como se fosse mais novo.
5. Desinteresse paradoxal, que se manifesta por indiferença às recordações da figura cuidadora (fotografia ou menção do nome), ou mesmo uma espécie de "ouvido seletivo", que parece não reconhecer essas pessoas.
6. Como comportamento alternativo, a criança pode mostrar-se exatamente ao contrário das características acima; torna-se extremamente sensível a qualquer recordação do(a) cuidador(a), apresentando mal estar agudo diante de qualquer estímulo que lembre da pessoa.

Luto da Criança

Para entender o impacto que causa na criança a perda por morte de uma figura de forte apego afetivo (mãe, pai, irmãos), é preciso entender a teoria do apego, inicialmente pesquisada por Bowlby.

Segundo maravilhoso trabalho de Cecília Casali Oliveira, existem 3 fases do luto, assim caracterizadas:

"Busca ou protesto - o intenso desejo de recuperação da pessoa amada e perdida, que leva a comportamentos de busca inócua, produz uma forte reação de protesto pela impossibilidade de se alcançar o objetivo desejado.

Desespero e desorganização - o conflito permanente entre o desejo e sua frustração, leva ao desespero, pois não se abdica do vínculo estabelecido com facilidade e sem sofrimento. O pensamento, constantemente concentrado nessa tarefa, deixa pouca possibilidade para dedicar-se a outras atividades, revelando o quanto é importante o trabalho de busca de uma resolução para o conflito; o mundo parece estar fora de contexto para o enlutado, tanto quanto este parece estar fora de contexto para o mundo.

Recuperação e restituição - o conflito pode ser solucionado a partir de uma nova construção do vínculo com o falecido, o que preserva a relação em um outro patamar; o sofrimento diminui gradualmente, permitindo um retorno da atenção para o mundo e trazendo a possibilidade do estabelecimento de novas relações." (veja o site)

Ainda de acordo com Cecília Casali Oliveira, "Stroebe, Stroebe e Hansson (1993) apresentam um levantamento das respostas emocionais esperadas no processo normal de enlutamento. Acrescentam que, em casos de luto complicado, esses aspectos podem apresentar-se com intensidade ou duração alteradas, apontando para a impossibilidade de se caminhar dentro do processo esperado e constituindo-se um indicativo da não resolução do luto.

1) Choque, entorpecimento e dificuldade de acreditar na realidade;

2) Pesar e tristeza, acompanhados por dor mental e sofrimento, com choro e lamentação;

3) Senso de perda devido ao reconhecimento da ausência e da impossibilidade de recuperação;

4) Raiva é comum e pode se voltar contra a pessoa falecida, familiares, médicos, amigos e mesmo contra o próprio ego;

5) Culpa e arrependimento, que aparecem sob as formas: culpa por sobreviver, pela responsabilidade da morte ou pelo sofrimento que ela trouxe e, ainda, pela deslealdade do falecido;

6) Ansiedade e receios que aparecem sob a forma de insegurança, medos ou crises de angústia;

7) Imagens repetitivas da pessoa falecida próxima da morte, da doença, com caráter intrusivo e fora de controle;

8) Desorganização mental apresentando graus variados de distração, confusão, esquecimento ou falta de coerência;

9) Sobrecarga de tarefas e dificuldades para sua realização, que trazem a sensação de estar perdendo o controle, de desamparo e de sentir-se incapaz de enfrentar a realidade;

10) Alívio, especialmente após doença longa e sofrida, pelo término do sofrimento;

11) Solidão, que se expressa como sentir-se só mesmo quando em grupo e com picos de sentimentos intensos de isolamento;

12) Sentimentos positivos também aparecem, a intervalos, em meio ao pesar."

2. Depressão da Infância Precoce:

1. Estado de ânimo deprimido ou irritável
2. Interesse e prazer diminuídos nas atividades apropriadas para seu desenvolvimento,
3. Capacidade reduzida para protestar,
4. Repertório diminuído de interações sociais e de iniciativas.
5. Perturbações no sono e/ou na alimentação,
6. Perda de peso.
7. Sintomas presentes durante um período de pelo menos duas semanas

Em crianças no final da 2a infância (dos 6 aos 12 anos), podemos encontrar quadros de base depressiva mais típicas, mas nem sempre. Quando a depressão é muito grave, o que felizmente não é tão comum, sintomas francamente psicóticos também podem aparecer, tais como idéias delirantes, alucinações, e severo prejuízo das atividades sócio-familiares, incluindo a escola. As idéias suicidas também não são raras, embora dificilmente antes dos 10 anos de idade.

Dentro da Depressão Infantil atípica, a mais comum, podemos ainda encontrar crianças erroneamente tomadas por delinqüentes e, não raro, crianças que chegam de fato ao suicídio. Tendo em vista a elevada incidência da Depressão Infantil registrada por inúmeros autores, será lícito e sensato pensar sempre na possibilidade depressiva diante de qualquer criança problemática.

Suicídio

No adolescente a relação depressão-suícidio é bastante significativa. A grande maioria dos adolescentes suicidas (94%) apresenta problemas psiquiátricos, sendo a Depressão o mais importante deles (51%). O suicídio de adolescentes é, atualmente, o responsável mais importante que doenças cardiovasculares ou o câncer pelas mortes de jovens de 15 a 19 anos .

Em nosso meio, Friedrich (1989) observa a ocorrência de alterações emocionais merecedoras de tratamento médico em dois terços da população estudada, e sem relações diretas com nível intelectual e sócio-cultural dos pacientes. Concomitantemente, refere que a tentativa familiar de negar o fato como o principal responsável pelas dificuldades de atendimento do paciente em questão. Assim, reforça-se mais uma vez a necessidade de um diagnóstico fidedigno da depressão na criança e no adolescente.

A taxa do suicídio para adolescentes aumentou mais do que 200% na última década. Os estudos recentes mostram que mais de 20% dos adolescentes na população geral tenha problemas emocionais e um terço dos adolescentes que procuram clínicas psiquiátricas sofrem de depressão. A grande maioria das depressões em adolescentes pode ser muito bem controlada ambulatorialmente e com a sustentação da família com muito sucesso .

Os atos suicidas geralmente estão associados com uma crise depressiva aguda e significativa na vida do adolescente. É importante reforçar que a crise pode parecer insignificante aos adultos ao redor, mas é sempre muito significativa ao adolescente. A perda de um namoro, de uma nota na escola ou a constatação de uma crítica pejorativa adulto significativo, especialmente o pai ou um professor, pode precipitar um ato suicida no paciente depressivo.

Violência e excesso de atividades são as maiores causas da depressão

Alguns trabalhos procuram razões ambientais para a alta incidência de depressão entre jovens e adolescentes. A matéria publicada no jornal O Estado do Maranhão, Galera de 14/08/02 (Visite o site) e transcrito no site BVS-Adolesc diz:

"A depressão atinge de 4 a 8 adolescentes em cada cem. Estudos mostram que os fatores de risco da doença aumentam a cada geração desde 1940. Violência urbana, excesso de atividades na agenda diária e falta de espaço para o lazer são os principais fatores.

Cada vez mais os médicos estão convencidos da necessidade de valorizar o que os meninos e meninas dizem sentir. “Pediatras, pais e professores precisam estar atentos às queixas de comportamento dos adolescentes”, diz a Regina Reis, professora da Universidade Federal Fluminense".

De fato, o sintoma que deve chamar a atenção para suspeita de depressão infantil é a mudança de atitude da criança, assim como, alterações no apetite, no estado de ânimo, retraimento social, irritabilidade, medo, tiques nervosos...

A impressão que se tem, de fato, é que a conduta atual de se atribuir às crianças responsabilidades de adultos pode proporcionar uma sobrecarga afetiva incompatível com a faixa etária.

Segundo notícia divulgada por CNN-Saúde, as crianças "materialistas" seriam mais propensas à depressão
"As crianças que equiparam a felicidade ao dinheiro e a fama à beleza são mais propensas a sofrer de depressão do que outras que não dão tanto valor à riqueza e à aparência, de acordo com um estudo realizado na Austrália".
Essa nota corrobora o que dissemos acima. Além da depressão citada no artigo, a prática clínica tem mostrado que também alguns transtornos alimentares (anorexia, bulimia) tem acompanhado a mentalidade competitiva, pragmática e consumista de algumas crianças.

Continua a matéria da CNN: "A dra. Helen Street, do Queen Elizabeth Medical Centre, de Perth, disse numa conferência sobre psicologia, na Grã-Bretanha, que o fenômeno pode ser notado até mesmo em crianças de 4 anos, acrescentando que até 20 por cento correm o risco de sofrer da doença no futuro.
Ainda de acordo com Street, as crenças, em uma época da vida tão precoce, sobre felicidade e objetivos poderiam ser um indício, em crianças pequenas, de sua vulnerabilidade à depressão.

"As crianças que pensam que dinheiro suficiente e popularidade trazem a felicidade correm um risco maior de depressão do que aquelas que acreditam que o dinheiro pode ser uma coisa boa de ter, mas que sua felicidade vem de seu desenvolvimento pessoal", declarou a especialista.

Das 402 crianças australianas pesquisadas pela dra. Street, com idades entre 9 e 12 anos, 16 apareceram com sinais de depressão clínica e 112 com risco de sofrer de depressão no futuro.

Quase 12 por cento das crianças disseram que ter muito dinheiro era a coisa mais importante. Essas crianças foram, também, as que apresentaram maior propensão a sofrer de depressão.

Veja um trecho do artigo de Cristina Montone publicado no Jornal Aprender:

"Depressão não é tristeza. É uma doença que deve ser tratada. Se os adultos muitas vezes não conseguem perceber o problema dessa forma, o que se dirá de uma criança? A falta da percepção de que esse mal também acomete os pequenos está alarmando especialistas em infância e adolescência. Não é o único motivo de preocupação. O diagnóstico da enfermidade na garotada cresce e assusta os médicos.

Na Santa Casa de Misericórdia do Rio, por exemplo, o número de casos aumentou 10% de 1995 até agora. Dos pacientes atendidos nesse período, 76% chegaram ao hospital sem que os pais soubessem do estado depressivo dos filhos.Na criança e adolescente a Depressão, em sua forma atípica, esconde verdadeiros sentimentos depressivos sob uma máscara de irritabilidade, de agressividade, hiperatividade e rebeldia.

As crianças mais novas, devido à falta de habilidade para uma comunicação que demonstre seu verdadeiro estado emocional, também manifestam a depressão atípica, notadamente com hiperatividade.

Alguns outros sintomas podem acompanhar esse transtorno na infância e adolescência em idade escolar, tais como, apatia, tristeza, agressividade, choro, hiperatividade, queixas físicas, medo à morte nele próprio ou nos familiares, frustração, desespero, distração, baixa autoestima, recusa em ir à escola, problemas de aprendizagem e perda de interesse por atividades que antes gostava" veja tudo

Ainda sobre o diagnóstico da Depressão Infantil, veja um trecho do artigo de Tereza Melo Sousa para o site Qualidade de Vida (Terra):

"Uma criança desatenta na escola, apática ou mesmo hiperativa merece ser observada com um pouco mais de cuidado. Ela pode estar sofrendo de depressão. Os sintomas da depressão em crianças e adolescentes geralmente são diferentes dos sintomas dos adultos.

Existem alguns aspectos que devem ser observados quando do processo de diagnóstico da depressão infantil: humor irritado ou depressivo; perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas; alteração do sono; alteração do apetite com perda ou aumento de peso; dificuldade de concentração; pensamentos de morte ou ideação suicida; agitação ou retardo psicomotor; fadiga excessiva ou baixa energia e sentimentos de desesperança ou culpa excessiva.

... Nas crianças são muito comuns sintomas somáticos como dor de cabeça ou de barriga. A tristeza pode se apresentar como baixo rendimento escolar e a irritabilidade com alteração do comportamento: teimosia, brigas em casa e na escola, por exemplo”.

Ainda sobre Depressão Infantil, veja um trecho do artigo de Tereza Melo Sousa para o site .Qualidade de Vida (Terra): O tratamento começa com a quebra do preconceito

"Além das dificuldades da doença em si, o tratamento da depressão esbarra num problema bastante comum: o preconceito. Mesmo os pais da criança ou adolescente deprimido relutam em aceitar o fato de que o filho precisa ser levado a uma psiquiatra. Isso porque não querem taxar o filho de doente mental.

Esse tipo de preconceito, além de retrógrado (como todo preconceito, ressalte-se), é também perigoso. “É fundamental que os pais aceitem o diagnóstico de depressão. Eles têm de perder o medo do neurologista, psiquiatra ou psicólogo. O tratamento é uma forma de prevenir quadros piores”, alerta a psicoterapeuta Vânia Fortuna.

A psicóloga fala ainda do risco de a doença passar pela infância e chegar à adolescência: “Nos últimos 30 anos, o índice de suicídios entre os adolescentes triplicou. Boa parte deles decorrentes de depressão infantil não tratada aliados aos conflitos próprios da idade”.

Segundo a psiquiatra Silzá Tramontina, do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, “o tratamento mais adequado para a depressão é o do modelo biopsicossocial, que inclui psicoterapia individual ou familiar, uso de medicação, orientação educacional e manejo social”. Veja tudo

Ana Rosa de Oliveira, na época bolsista do CNPq publicou artigo na internet sobre o Adventure Playground. A idéia surgiu em1983 quando ela vivia no Japão. Veja um trechinho que fala de suicídio infantil:

"Assim, desde cedo as crianças são lançadas numa maratona de estudos que começa aos 6 anos e vai até à Universidade, quando ganham plena liberdade para, inclusive, se quiserem, não estudar nada.

Estudos comprovam que o tempo livre das crianças diminuiu, enquanto o dos adultos aumentou. Isso pode ser explicado pelo número de crianças que tomam aulas particulares após as aulas normais. Essas aulas, mais as de piano, violino, balé e baseball, entre outras, acabam privando as crianças do seu tempo livre para brincar. Basta dizer que para muitas delas a preparação para o vestibular já inicia aos 6 anos de idade, na escolha de uma boa escola e através de aulas particulares (as escolas Juku), que freqüentam após as aulas normais.

Numa entrevista feita com crianças que freqüentavam o parque, 30% delas responderam que iam menos de um dia por semana ao parque. Diante deste quadro, não é de estranhar a alarmante taxa de suicídio infantil no Japão."


Fonte:
Ballone, GJ - Depressão Infantil - in. PsiqWeb, Internet, disponível em revisto em 2003

domingo, 15 de agosto de 2010

Transtornos da Infância Precoce e Primeira Infância

Existem diversos transtornos emocionais que qualquer ser humano está sujeito a ter, inclusive as crianças e adolescentes. O tratamento adequado desses transtornos de forma e em época adequadas, proporciona não só às crianças e adolescentes um melhor desenvolvimento, senão também à família e, em última instância, à sociedade.

O contacto precoce íntimo da criança com a mãe, imediatamente depois do nascimento terá um significado emocional muito grande para o futuro emocional da pessoa.

Os gestos e carinhos com que a mãe toca seu filho recém nascido, a conversa simbólica cujo significado é mais sentido que compreendido pela criança, a sensação tranqüilizadora que a criança sente quando sente seu corpo junto ao corpo da mãe, quando capta os batimentos cardíacos no peito da mãe são experiências afetivas primordiais que ficarão eternamente presentes no perfil afetivo dessa criança.

Esta etapa de relacionamento afetivo íntimo mãe-bebê tem sua influência mais marcante entre os 3 e 10 anos (da infância precoce até a idade escolar, ou primeira infância). E nessa etapa as crianças necessitam do relacionamento afetuoso com os adultos, de um contacto que estimule segurança, confiança e proteção.

Alterações no relacionamento mãe-filho nessa faixa etária podem ter conseqüências danosas ao desenvolvimento infantil e seqüelas que podem se perpetuar ao longo da vida adulta. Essas conseqüências dependerão da época (quanto mais precoces piores), das características afetivas inatas da criança, da personalidade da mãe e das circunstâncias desse relacionamento.

Transtornos do sono - De 0 a 1 ano

Cada criança possui um ritmo próprio de sono que, habitualmente, não precisa coincidir com o ritmo que a mãe ou os parentes desejam. Antes de 1 ano, satisfeitas as necessidades fisiológicas (fome e sede) e quando não existem outros problemas (cólicas, frio, calor...) o bebê rapidamente dorme. Isso confirma que o sono é intimamente relacionado à saciedade, pois, durante os primeiros meses, o despertar está estreitamente vinculado à sensação de fome e o adormecimento à sensação de satisfação.

Ao passar do primeiro para o segundo ano a vigília vai se tornando cada vez mais freqüente, pois começam a se ampliar os interesses das crianças, tornando-as mais ativas. O ritmo habitual do sono pode estar comprometido quando existem dificuldades em relação à alimentação ou com dificuldades de relacionamento.

No primeiro trimestre as dificuldades em conciliar o sono podem ser causadas por vários fatores:

Inadequação do regime alimentar.

Incompatibilidade dos horários da criança com os horários da mãe.

Falta de estímulos em geral.

Superestimulação capaz de provocar hiperexcitabilidade.

Ausência de contacto materno.

Personalidade hiperativa da criança.

Falta de um ambiente mais acolhedor e tranqüilo.
Transtorno de Associação (veja na coluna ao lado).

Transtornos do sono - De 1 a 2 anos

Algumas vezes os transtornos do sono começam no segundo ano de vida. Nessa fase a criança se excita com todas novidades e possibilidades (engatinhar, andar, pegar...)

A partir daí, dormir já não é somente uma resposta automática às necessidades fisiológicas, uma vez que a criança precisa abstrair-se de seus interesses para poder dormir. Pode produzir-se, nesta fase, um grau importante de ansiedade, fazendo com que a criança tente manter-se acordada por todos os meio.

Também nessa fase a criança começa a se utilizar de todos os meios para manter sua mãe por perto, tais como o choro, birras, manhas, etc. Para pegar no sono é necessário alguns rituais, como canções de ninar, balanços, sucção do peito materno, recorrer a objetos aconchegantes, tais como bixinhos de pelúcia, mantas de lã, paninhos, etc.

Entre os fatores externos capazes de provocar ansiedade e, conseqüentemente perturbar o sono, os principais são a irregularidade dos horários, ambientes barulhentos e agitados e a soperestimulação por parte dos pais e parentes.

Transtornos do sono - De 2 a 5 anos

A quantidade de horas que a criança dorme, assim como a profundidade do sono e sua distribuição durante as 24 horas do dia, depende das diferentes etapas do desenvolvimento, pois a evolução do sono é paralela ao processo de maturação cerebral e funcional do organismo.

A possibilidade de separação da mãe ao ir para a cama é um dos motivos que interferem no sono durante o segundo ano. Se a estimulação durante a vigília não é adeqüada e não há uma boa relação mãe-filho, o sono não será de boa qualidade. Mas, de modo geral, entre os 3 e 5 anos o sono tende a se normalizar, embora possam haver alguns episódios de despertar no meio da noite, pedir para dormir com os pais, ter sonhos desagradáveis, etc. Nessa fase as crianças recusam dormir de dia.

Também nessa época a criança experimenta o medo e a angustia de forma combinada. Os medos podem ser bastante freqüentes, incluindo o medo do escuro, medo de ficar sozinho, medos sobrenaturais, de animais. Por isso é comum que as crianças peçam alguma luz acesa, normalmente do corredor, ou que tenham um interruptor à mão ou, quando for mais sério o medo, pedem para dormir ou adormecer com as mães.

Os medos se acalmam com a presença dos pais e, com o tempo, acabam por desaparecer. Por isso é importante que os pais compreendam e tranqüilizem a criança.

Paola Gavilán Massa fala dos rituais e automatismos que aparecem nessa idade. Esses rituais servem para tranqüilizar a criança, facilitando para que pegue no sono. Algumas crianças chupam o dedo (polegar, quase sempre), outros só conseguem dormir com algum objeto, como por exemplo, uma almofada, bixinhos de pelúcia, paninho, etc.

Terror Noturno

Um episódio de terror noturno se caracteriza pela criança que acorda gritando, gesticulando e chorando. Ela se agita pedindo ajuda aos pais na tentativa de se livrar das fantasias que o atacam.

Segundo o DSM.IV, a característica essencial do Transtorno de Terror Noturno é a ocorrência repetida de terror durante o sono, representada por um despertar abrupto, geralmente começando com um grito de pânico. O terror noturno habitualmente inicia durante a primeira terça parte do principal episódio de sono e dura cerca de 1 a 10 minutos. Os episódios são acompanhados por excitação autonômica e manifestações comportamentais de intenso medo. Durante um episódio, é difícil despertar ou confortar o indivíduo mas, se a pessoa é desperta após o episódio de terror noturno, nenhum sonho é recordado, ou então existem apenas imagens fragmentadas e isoladas.

Os episódios de terror noturno para ser considerados Transtorno de Terror Noturno, devem causar sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional. Nas crianças, assim como em adultos, podem ocasionar um “dia seguinte” cansativo e extenuante.

Durante um episódio típico de Terror Noturno, a pessoa se senta abruptamente na cama gritando, com uma expressão aterrorizada e sinais autonômicos de intensa ansiedade, como por exemplo, taquicardia, respiração rápida, rubor cutâneo, sudorese, dilatação das pupilas, tônus muscular aumentado. Geralmente a pessoa não responde aos esforços dos outros para despertá-la e, se despertada, mostra-se confusa e desorientada por vários minutos.

Quando os pais acodem a criança esta demora a ter noção clara do que se passa, permanecendo meio dormindo ainda por alguns momentos, por isso pode não reconhecer de pronto as pessoas e dizer coisas incompreensíveis. Quando acorda totalmente, vendo os pais ao seu lado, tranqüiliza-se.

Sonambulismo

A característica essencial do Transtorno de Sonambulismo são os episódios repetidos de comportamento motor complexo, iniciado durante o sono, incluindo levantar-se da cama e andar. Durante esses episódios, a pessoa apresenta uma redução do estado de alerta, um olhar vazio e uma relativa ausência de resposta à comunicação com outras pessoas.

Quando o sonâmbulo é desperta na manhã seguinte, pode ter uma recordação precária do episódio. Após o episódio, quando é despertado, pode haver um breve período de confusão ou dificuldade para orientar-se.

Os episódios de sonambulismo podem incluir uma variedade de comportamentos, desde simplesmente se sentar na cama, olhar em volta ou remexer no cobertor ou no lençol ou até se levantar, ir ao banheiro, sair do quarto, subir ou descer escadas, comer, falar e mesmo sair de casa. Os sonâmbulos podem ainda falar ou até mesmo responder a perguntas, mas seu discurso é relativamente confuso. Não é raro que essas pessoas respondam solicitações de outros para cessarem suas atividades e voltarem para a cama.

Particularmente na infância, o sonambulismo também pode incluir um comportamento inadequado, como por exemplo, urinar em um armário, na sala, etc. A maior parte dos episódios dura de alguns minutos a meia hora e podem terminar espontaneamente.

A criança sonâmbula se levanta durante a primeira parte da noite, agindo automaticamente, com os olhos abertos, olhar fixo e movimentos inseguros. Depois de andar algum tempo, costumam voltar à cama ou se deixam levar facilmente por qualquer pessoa. A idade de aparecimento do sonambulismo se dá entre os 7 e 8 anos, com mais freqüência em meninos.

Pesadelos

O DSM.IV fala de Transtorno de Pesadelo, cuja característica é a ocorrência repetida de sonhos assustadores que levam ao despertar. A pessoa com pesadelos torna-se plenamente alerta ao despertar, ao contrário dos sonâmbulos. Os pesadelos tipicamente ocorrem em uma seqüência onírica extensa e elaborada, sendo altamente indutores de ansiedade ou aterrorizantes. O conteúdo do sonho focaliza, mais comumente, um perigo físico iminente, perseguições, ataques, ferimentos, morte. Em outros casos, o perigo percebido pode ser mais sutil, envolvendo fracasso ou embaraço social, como estar em situação vexatória, nu, mal vestido, enfim, qualquer situação traumática para (e só para) a pessoa que sonha.

Ao despertar, pessoa com pesadelos podem descrever detalhadamente a seqüência e o conteúdo do sonho.

As criança com pesadelos a criança se mexe muito, geme e termina por acordar explicando aos pais os terrores pelos quais passou. Elas são prontamente tranqüilizadas, embora algumas vezes têm medo de voltar a dormir. Normalmente os pesadelos são expressão da ansiedade, concretizada em imagens dos sonhos que a criança vive como reais.


Transtornos da Alimentação – De 0 a 1 Ano

O Transtorno de Alimentação da Primeira Infância consiste na falha persistente em comer ou mamar adequadamente, que se reflete como um fracasso significativo para ganhar peso ou uma perda de peso significativa ao longo de pelo menos 1 mês (Critério do DSM.IV). Não se trata da conseqüência existe de uma condição gastrintestinal orgânica ou outra condição clínica, como por exemplo, do refluxo gastro-esofágico, mas uma perturbação alimentar de difícil explicação. Para que o transtorno alimentar seja considerado de primeira infância seu início deve ocorrer antes dos 6 anos de idade.

Com freqüência os bebês com transtornos da alimentação são irritáveis e difíceis de consolar principalmente durante a alimentação e, em outros momentos, eles podem ser apáticos e retraídos, bem como apresentar atrasos no desenvolvimento.

Em alguns casos o Transtorno de Alimentação da Primeira Infância coexiste com problemas na interação entre os pais e a criança, em geral caracterizados por reações agressivas dos pais diante da recusa alimentar do bebê.

Pode existir uma associação entre o Transtorno de Alimentação da Primeira Infância e dificuldades no ciclo sono-vigília, regurgitação freqüente e períodos imprevisíveis de vigília. No primeiro ano as recusas alimentares também podem ser conseqüência de separações traumáticas, porém, não é raro que aconteça o contrário, ou seja, que a criança mostre uma necessidade excessiva de alimento.

Recusa Alimentar

Os primeiros transtornos alimentares na infância podem aparecer logo na lactância através da recusa do peito materno ou da mamadeira. No começo dessa anorexia algumas crianças demonstram apenas passividade diante da comida, não realizam os movimentos de sucção e, depois de algum tempo, se negam a comer. As causas podem ser fisiológicas, como por exemplo um reflexo de sucção mais lento, o fluxo do leite difícil ou a forma inconveniente do mamilo, ou mesmo devido à pouca necessidade de alimento.

As causas podem ainda ser psicológicas, neste caso, como uma reação negativa automática desencadeada pela ansiedade da mãe. Ainda por razões psicológicas, a criança pode apresentar recusa alimentar por ocasião do desmame do seio materno, manifestando-se, além da recusa alimentar, choro, agitação e/ou vômitos. Essa situação pode ser prevenida quando o desmame do seio é gradual.

Durante o primeiro ano a relação comida-mãe tem um papel fundamental no desenvolvimento da criança. Às vezes, a recusa alimentar da criança reflete uma carência de atenção materna. São importantes as reações dos pais a respeito dessas dificuldades alimentares da criança. Normalmente os pais se desesperam diante da inapetência de seus filhos mas, se forçam a alimentação com extrema rigidez, criam-se círculos viciosos onde a hostilidade e tensão passam a predominar, convertendo os atos de comer em verdadeiras lutas entre os pais e a criança.

Vômitos

No caso dos vômitos, o jato e a força do alimento expelido pela boca é proporcionada por fortes contrações da musculatura abdominal e podem ter uma grande variedade de causas. Entre essas causas as mais comum são o exceso de alimento oferecido, seguido pela voracidade e rapidez com que alguma crianças mamam e por atitudes extremadas das mães, sobreproteção ou de falta de atenção. A aerofagia, que é a ingestão de ar junto com o leite, também pode ser uma das causas.

Alguns psicólogos acreditam que, com muita freqüência, os vômitos se devem a dificuldades emocionais que a criança experimenta, e devem ser entendidos como uma tentativa de chamar a atenção, uma espécie de protesto ou um medo de perda da mãe.

Regurgitação ou Ruminação

A característica da Ruminação ou Regurgitação é a volta espasmódica da alimentação ingerida e re-mastigação de alimentos. Trata-se de uma dificuldade muito séria no processo alimentar que começa entre os 3 e 6 meses de idade, podendo persistir durante muito tempo.

O alimento parcialmente digerido é ejetado da boca ou, mais comumente, mastigado e engolido de novo, é regurgitado sem náusea, esforço para vomitar, repugnância ou transtorno gastrintestinal aparentes.

A Regurgitação não é devida a uma condição gastrintestinal ou outra condição clínica, como por exemplo, ao refluxo gastro-esofágico.

Os bebês com Ruminação ou Regurgitação exibem uma posição característica de tencionar e arquear as costas com a cabeça estirada para trás, projeta a mandíbula para frente e faz movimentos de sucção com a língua. A regurgitação ou ruminação não ocorre só depois que a criança se alimenta mas sim em qualquer momento e, curiosamente, parece ocorrer mais vezes quando a criança se encontra sozinha.

A literatura enfatiza o fato das crianças com Regurgitação serem habitualmente quietos, tristes, e que permanecem imóveis durante horas. Tem-se a nítida impressão que elas experimentam algum prazer com a ruminação e podem continuar fazendo movimentos de sucção como se buscassem alguma satisfação oral com isso.

Quando a regurgitação se regulariza, interrompe-se a perda de peso que a criança vinha apresentando, caso contrário, o crescimento é deficiente, podendo aparecer distrofia grave e desidratação e desnutrição.

Ainda que se possa evitar o ato de ruminação mediante constante atenção ou distração à criança, uma melhora mais expressiva só pode se dar com o restabelecimento de uma boa relação entre a mãe e a criança. Em algumas ocasiões a regurgitação pode se confundir com os vômitos, sendo o aspecto voluntário da regurgitação a principal diferença.

Transtornos Esfincterianos (da urina e da evacuação)

Durante os 2 primeiros anos de vida nenhuma criança têm ainda controle voluntário dos esfíncteres e quando começam a controlá-los, o controle diurno aparece antes que o noturno. O controle total dos esfíncteres aparece, na maioria das crianças, entre os 2 e 4 anos, tanto para o controle diurno quanto noturno, mas não podemos considerar patológicos ainda, os descontroles até os 5 anos.

O desenvolvimento do controle voluntário dos esfíncteres depende de vários fatores. Embora entre eles sejam importantes o treinamento, a aprendizagem e a maduração neurofisiológica, esse controle costuma estar condicionado ao desenvolvimento afetivo da criança, ou seja, ao equilíbrio da comunicação mãe-filho.

De acordo com as circunstâncias, o descontrole esfincteriano pode servir aos propósitos emocionais da criança, como uma espécie de comunicação de seus sentimentos para com a mãe, seja de satisfação ou de oposição. Podem coexistir com a enurese a Encoprese (fazer cocô nas calças), o Sonambulismo e o Terror Noturno.

Enurese (esfíncter vesical)

Enurese é a falta de controle na emissão da urina, com micções completas na cama ou na roupa que podem aparecer durante o dia ou a noite de forma involuntária, e que se mantêm ou aparecem depois de ultrapassada a idade de aquisição normal do controle esfincteriano. O controle esfincteriano normal deve ser alcançado em uma idade cronológica de, no máximo, 5 anos. A enurese aparece mais freqüentemente em meninos que em meninas.

Para a classificação da enurese falamos em 3 subtipos (DSM.IV):

Enurese Noturna. Este é o subtipo mais comum, definido como a passagem da urina apenas durante o sono noturno. O evento enurético tipicamente ocorre durante o primeiro terço da noite. Às vezes, o esvaziamento ocorre durante o estágio do sono de movimentos oculares rápidos (REM), podendo a criança recordar um sonho que envolvia o ato de urinar.

Enurese Diurna. Este subtipo é definido como a passagem da urina durante as horas de vigília. A Enurese Diurna é mais comum no sexo feminino, sendo incomum após os 9 anos. O evento enurético ocorre mais habitualmente nas primeiras horas da tarde, em dias de escola. A enurese diurna ocasionalmente se deve à relutância em usar o banheiro, em virtude de ansiedade social ou de uma preocupação com a escola ou com a atividade lúdica.

Enurese Noturna e Diurna. Este subtipo é definido como uma combinação dos dois subtipos acima.

O grau de prejuízo associado à enurese decorre das limitações impostas às atividades sociais da criança, como por exemplo, a dificuldade em pernoitar na casa de amigos, acampamentos, etc, ou de seu efeito sobre a auto-estima. A criança com enurese experimenta também uma dose de vergonha dos companheiros e tristeza diante das punições por parte dos pais.

A prevalência da Enurese aos 5 anos é de 7% para o sexo masculino e 3% para o sexo, aos 10 anos, é de 3% para o sexo masculino e 2% para o sexo feminino e aos 18 anos, é de 1% para o sexo masculino e menos de 1% para o sexo feminino.

A freqüência da enurese pode ser diária ou intermitente, piorando em alguma época ou em alguma circunstância especial. A enurese é, talvez, um dos principais sintomas utilizados pela criança para reclamar a atenção e mostrar a necessidade de ajuda, refletindo de forma inconsciente, normalmente, conflitos internos mais ou menos sérios, angústia e depressão.

É comum que a enurese apareça, na falta de uma personalidade irritável, depois do nascimento de um irmão, depois de uma separação importante ou de algum outro problema familiar grave, diante do qual a criança reage de forma regressiva.

Não se deve confundir a enurese com incontinência urinária de origem orgânica que, normalmente, se segue a alguma infecção do trato urinário ou, mais gravemente, em problemas neurológicos.

Encoprese

A encoprese é a evacuação intestinal parcial ou total na roupa que acontece depois da idade normal de controle (mais de 4 anos), desde que não seja devida a algum tipo de problema orgânico ou medicamentoso (laxante). Sua característica é a evacuação repetida de fezes em locais inadequados, como por exemplo nas roupas, na cama ou no chão (DSM.IV).

A encoprese freqüentemente está relacionada à constipação (intestino preso), impactação e retenção de fezes. Em crianças escolares e pré-escolares a primeira constipação pode se desenvolver por razões psicológicas, como a ansiedade diante da possibilidade de defecar em local inadequado (escola, ônibus, festa, etc) ou à um padrão de comportamento de oposição.

As predisposições fisiológicas à constipação intestinal incluem a desidratação associada com doença febril, hipotireoidismo ou efeito colateral de algum medicamento. Uma vez que a constipação se desenvolva, ela pode ser complicada por uma fissura anal, defecação dolorosa e retenção fecal adicional. A consistência das fezes na encoprese pode variar, sendo normal ou próxima ao normal, líquidas ou muito dura.

Como ocorre na enurese, a encoprese é mais freqüente em meninos que em meninas e, comumente, a criança com encoprese pode ser também enurético.

A criança com encoprese com freqüência sente vergonha e pode ter o desejo de evitar situações diferentes que poderiam provocar embaraços, como por exemplo, dormir na casa de colegas, acampamentos ou viagens. Em geral essas crianças apresentam algum traço de personalidade comuns, como por exemplo, dificuldades no controle da agressão, são muito dependentes e toleram mal as frustrações.

O grau de prejuízo está relacionado ao efeito da encoprese sobre a auto-estima da criança, seu grau de isolamento social e raiva, punição e rejeição por parte dos pais. O fato da criança sujar-se com fezes pode ser deliberado ou acidental, resultando de sua tentativa de limpar ou esconder as fezes evacuadas involuntariamente.

Quando a incontinência é claramente deliberada, características de Transtorno Desafiador Opositivo ou Transtorno da Conduta também podem estar presentes.

Constipação

A constipação é a retenção fecal quando não existem anomalias anatômicas ou causas dietéticas. A pesar de, aparentemente, não parecer um problema importante, pode converter-se em um transtorno crônico e difícilmente reversível. A constipação na criança é considerada, também, como uma forma de expressar sentimentos de oposição, frustração e ansiedade.

Diarréia

Tanto em crianças quanto em adultos, as diarréias também se incluem entre os transtornos gastrintestinais cuja origem é a ansiedade e a depressão, exceto nos casos de uma possível ação de agentes infecciosos ou alergias alimentares.



Inspirado no Trabalho de Paola Gavilam Massa



Fonte:
Ballone GJ - Transtornos da Infância, in. PsiqWeb, Internet, disponível em 2003