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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

As crianças e os animais

Por Adriana F. Pastor, Patrícia Oguma e Priscila Rufino

Cita Dotti (2005) que algumas pesquisas realizadas com pais de crianças que possuíram animais de companhia em sua infância apontam que as atitudes das crianças se tornaram mais intensas em relação à responsabilidade, sensibilidade e senso de comunicação com outras pessoas. Os aspectos como de cooperação, organização e de companhia foram identificados, facilitando o contanto com outras crianças e cria um ambiente saudável para brincadeiras. Estudos recentes mostram que as crianças entre 5 e 12 anos, que possuem animais de companhia, têm mais sensibilidade e compreendem melhor os sentimentos de outras pessoas tendo mais empatia. Crianças menores desenvolvem mais rapidamente a cognição e se tornam até mais espertas, com aumento considerável em seus pontos de QI. Podem desenvolver mais rapidamente sua coordenação motora, campo visual e sua inter-relação com o mundo exterior.
Outro aspecto como o senso de igualdade e diferença também é melhor compreendido pela criança. Em teste com crianças foi percebido que em seu relacionamento com o mundo exterior, com objetos inanimados, animais de brinquedo e animais vivos, há uma procura maior pelos animais vivos, independentemente dos brinquedos, barulhos e cores. Foi concluído que os animais vivos tinham um maior poder sobre as crianças, por responderem ao toque e estimularem os movimentos e a perseguição pela criança. O atrativo para a criança é a espontaniedade na interação, e ela sempre tentará outra vez, nem a televisão, nem o brinquedo e nem o vídeo-game farão o mesmo ou parecerão tão interessantes para ela. (DOTTI, 2005)
Dotti (2005) salienta que no mundo da criança e do animal há uma cumplicidade, pois eles estão sempre unidos pelos momentos que passam juntos, pelas brincadeiras, pelas confidências e pelo sentimento de sempre ter um amigo por perto. Há indícios de que esses laços trazem à criança uma estabilidade emocional e um amadurecimento compatível com sua idade, tirando-a do isolamento e gerando novas possibilidades. Alunos que possuem um envolvimento maior com os animais têm maiores índices de liderança e de altruísmo e menos índices de problemas comportamentais e ansiedade. É importante também o papel dos pais em incentivar as noções de dever e necessidade, para que a criança possa tomar consciência dos cuidados com o seu animal. Os pais devem encorajar a criança, por meio do animal, comportamentos responsáveis e de disciplina. Os animais apresentam grande oportunidade de envolvimento conjunto para com a família, onde momentos podem ser compartilhados de uma forma intensa por meio do contato físico e emocional com seu bicho de estimação.

Crianças, Psicoterapia e Animais

Segundo Serpel (1999 apud DOTTI, 2005) há estudos que indicam que as crianças utilizam seus animais de forma a se sentirem mais confortáveis quando se sentem chateadas, abandonadas, sozinhas e infelizes. Crianças com problemas de agitação, ansiedades, traumas em geral, podem ter uma grande ajuda dos animais, principalmente no que envolve a confiança entre terapeuta e paciente. Na maioria das vezes o que ocorre quando um animal está presente na sala e serve de apoio emocional, é que a criança sente-se acompanhada e cria uma cumplicidade afetiva com aquele animal, tornando-se menos ansiosa na hora de se abrir com o terapeuta, até o ponto de falar sobre suas próprias emoções de uma forma mais natural e também com mais propriedade.
Qualquer tipo de trauma pode prejudicar habilidades de socialização, pois gera desconfiança e insegurança. Já a relação com o animal é segura e isso traz um pouco de esperança para que a pessoa volte a acreditar nos outros e em suas relações. Uma série de técnicas podem ser utilizadas com a ajuda da presença do animal, trabalhando com os instrumentos que a própria pessoa fornece, trabalhando em suas virtudes e aspectos positivos podendo trazer à superfície fatos que com o decorrer da terapia poderão ser tratados. O terapeuta precisa criar uma atmosfera para que a criança encontre uma base de sustentação para seus problemas emocionais, e a partir daí aplicará diversas técnicas para realizar seu trabalho. Como por exemplo, aquelas que sofreram abusos ou foram negligenciadas, podem ter no animal um agente catalisador importante de suas emoções, o que poderá fazer a grande diferença, para que as mudanças e o crescimento possam ocorrer. Um dos fatores principais que o animal proporciona à criança é o senso do toque, onde ela sente que está doando e recebendo afeição, e é por causa dessa relação que o terapeuta, por meio do animal, consegue alcançar o paciente esteja ele onde estiver, e aos poucos conectá-lo com o mundo. (DOTTI, 2005)
Em entrevista realizada por Sanches (2007) com a veterinária Valéria Oliva, responsável pelos animais da Cão - Cidadão (Unesp), a melhora no comportamento agressivo dos pacientes é sensível. A iniciativa vai ser ampliada para crianças autistas ou com quadros severos de doenças mentais, e já é reconhecida por psiquiatras.
Para as crianças, brincar com bichos também é positivo até mesmo quando são animais de fazenda. Uma pesquisa realizada no final de 1999 na Áustria, mostrou que os pequenos que brincam com vacas, galinhas, porcos e ovelhas têm menos chance de desenvolver alergias e problemas respiratórios, como a asma. A explicação? O contato aumenta as células de defesa e deixa o corpo mais tolerante a bactérias e ácaros. (GULLO, 2000)
Segundo Dotti (2005) é de suma importância saber que há uma grande diferença nas relações com as crianças institucionalizadas e outras crianças pertencentes aos outros grupos que desenvolvem a TAA. A criança institucionalizada por motivo de abandono ou mesmo por que foi retirada de seus lares por violência contra ela, seja física, emocional ou psicológica, deve ter um tratamento mais aprofundado e conseqüentemente exigirá a participação de profissionais da instituição, juntamente com os profissionais do programa de TAA.
A relação da criança com o animal poderá ser de profunda dependência e vínculo extremo ou de descaso e crueldade. Ela pode se tornar agradável, cheia de atenção e afeto para com o animal e para com seu dono em uma interação intensa, ou se mostrar revoltada, arredia e projetar no animal toda uma carga emocional negativa, que se traduz em formas brutas e cruéis no convívio com os animais. Aconselha-se que essas crianças sejam analisadas e acompanhadas por psicólogos e pedagogos, para educar e aliviar a dor da rejeição e do abandono, continua o autor.
Para Poresky (1996 apud DOTTI, 2005) outro ponto importante é a relação de vínculo que se pode criar nessas condições. De qualquer jeito essa relação é criada, mas é essencial um monitoramento para que se crie um ambiente harmônico e não prejudicial para elas. Não é recomendável incentivar a relação apenas com um animal, pois possivelmente trará ansiedades e um profundo vínculo com ele. Mesmo que haja preferências, o que é normal, há de se abrir outras possibilidades e equilibrar as relações, com planejamento adequados para cada criança assistida.
Estudiosa do assunto nos seus 45 anos de profissão, Hannelori sempre observou a influência do animal dentro de uma família. Notava o quanto se guardava o luto quando o cão ou gato morria e as crianças que chegavam a adoecer sem seu bichinho de estimação. Por isso, há três anos resolveu fazer um trabalho voluntário que é uma verdadeira preciosidade. Leva animais para brincar com crianças deficientes do Lar Escola São Francisco, em São Paulo, e para fazer companhia aos doentes do Hospital da Criança, também na capital paulista. N. M. S., seis anos, internado no hospital às pressas por causa de uma intoxicação por remédio, adorou ser visitado pelos bichinhos. O garoto estava de cama, recebendo soro e bastante amuado com o susto. Assim que a psicóloga e a sua equipe apareceram no quarto ele mudou de ânimo e deixou transparecer um gostoso sorriso no rosto. A especialista afirma que as crianças se soltam e é possível notar uma melhora física e mental.(TERAPIA, 2007)
O portador de distúrbios psiquícos, V. R. G., vivencia problemas de sociabilização, concentração e aprendizado. Após seis meses de prática da equoterapia, o menino de apenas 8 anos, alcançou avanços físicos e mentais. A mãe, R. G., conta com entusiasmo que, logo nas primeiras semanas de tratamento, ele passou a agir de forma mais sociável, melhorando o relacionamento com os irmãos e também o jeito de andar, falar e aprendeu as cores. A psicopedagoga, Luciana Rocha, uma das profissionais que atua no seu tratamento equoterápico, explica que as atividades propostas para V. R. G. são focadas no aprendizado e na capacidade de concentração. Além da equoterapia, o garoto conta com o acompanhamento psiquiátrico, fato que contribui ainda mais para o seu desenvolvimento. (CRISTINA, 2007)
Em entrevista realizada por Gullo (2000) com Alexandre Rossi, a utilização desse tipo de terapia apresenta ótimos resultados com crianças doentes. Na presença de animais até os médicos conseguem se aproximar do paciente mais facilmente. Depois das visitas, o relacionamento e o humor dos pequeninos melhoram visivelmente. No rastro dessa idéia, o zootecnista começou há alguns meses a levar cachorros em asilos e nas casas de apoio do Hospital das Clínicas de São Paulo para brincar com crianças que sofrem de câncer. Essas instituições abrigam crianças doentes cuja família em geral não tem como mantê-las. Segundo ele, que também é especialista em comportamento animal, quando o cachorro chega, é uma festa. Tanto crianças como os velhinhos ficam visivelmente mais felizes. Alegria, aumenta os níveis de endorfina no organismo. Essa substância, que é nosso calmante natural, influi no sistema de defesa do corpo, deixando o paciente mais fortalecido, desse modo, reage-se melhor às doenças.
A. é um garoto, tem 5 anos e é portador da Síndrome de Down. Mas, quando está com a enorme e mansa Nagoya, uma rottweiler do canil Cambará, ou com Toby, um beagle, em São Roque, interior de São Paulo, o que se vê é uma criança comum, brincando ao ar livre, abraçando o cachorro, que retribui o carinho do garoto na mesma proporção.
Há alguns meses, A. e várias outras crianças, portadoras de diversas deficiências, de problemas emocionais graves à paralisia mental ou física, até autismo, têm encontrado no canil, junto aos animais, um elo com um mundo de movimento, expressões e descobertas que vêm surtindo efeitos sensíveis sobre sua saúde. Duas vezes por semana, essas crianças vão até o canil e aprendem, no contato com os cães, a fazer movimentos que até então eram quase impossíveis. Muitos aprendem os rudimentos da fala, ou pelo menos se esforçam para se expressar, e principalmente sentem-se aceitos e amados como são. Os cães não sabem que essas crianças são especiais. Sabem apenas que elas afagam, brincam e precisam de carinho. É uma relação muito rica, e que está surpreendendo pelos resultados positivos, afirma a pedagoga Marisa Solano, dona do Canil Cambará, onde cria rottweilers, beagles, labradores, cockers e weimaraners. Dona também da Escola de Educação Infantil Toquinho de Gente, em São Paulo, onde A. estuda, ela diz que foi justamente observando-o sendo estimulado pelos cães numa visita ao canil que teve a idéia de disponibilizar o espaço e seus animais para a terapia junto a crianças especiais.
Dirigida pela psicóloga Maria Lúcia Silveira Batista Pivelli e pela fonoaudióloga Silvana Banys, a Refazenda tem entre seus alunos crianças com diversos níveis de deficiência. Sem muitos dados teóricos com que trabalhar, as duas e a pedagoga Marisa Solano resolveram usar a sensibilidade e o estudo de caso a caso das crianças para verificar que tipos de estímulo os animais poderiam fornecer. Através da observação tanto das deficiências e dificuldades das crianças e do modo como elas se relacionavam com os animais elas foram estruturando exercícios e brincadeiras.
Foi assim, olhando cada criança e cada animal como indivíduos com suas próprias características, que se chegou a exercícios de estímulo aos movimentos. Exemplo: andar junto com o cão, ele sobre uma tábua e a criança ao lado, os dois se ensinando mutuamente, com a criança fazendo sem perceber exercícios psicomotores e de expressão. As crianças tentam se comunicar com o cão como poucas vezes tentam se comunicar com as pessoas. Em casos de deficientes visuais, por exemplo, trabalham com animais com guisos, o que desperta a atenção da criança e as anima a brincar. Os resultados que as visitas e as brincadeiras, sempre monitoradas pelas três profissionais e outras professoras da escola têm obtido são surpreendentes. Há crianças que há alguns meses nem ficavam em pé. Hoje se movimentam, com dificuldades ainda, dadas as suas próprias limitações, e outras que não conseguiam falar já emitem sons, chamam os cachorros. Enfim, brincando elas estão aprendendo a viver e a se socializar. (ANIMAIS, 2007)

Referências Bibliográficas:

ANIMAIS SÃO USADOS COM SUCESSO NA TERAPIA HUMANA. 2007. Disponível em: . Acesso em: 9 set. 2007.

CRISTINA, R. Cinoterapia: a terapia assistida por cães ajuda crianças, adolescentes e idosos a superarem seus limites. 15 jun. 2005. Disponível em: Acesso em: 10 ago. 2007.

DOTTI, J. Terapias e animais. São Paulo: Noética, 2005.

GULLO, C. Benefício animal: pesquisas mostram que cuidar de bichos ajuda no tratamento de doenças como câncer e depressão. Revista Isto é. 25 jan. 2000. Disponível em: . Acesso em: 1 ago. 2007.

SANCHES, M. Remédio em quatro patas. 2007. Revista Época. 21 mai. 2007. Disponível em: . Acesso em: 3 ago. 2007.

TERAPIA CANINA. 2007. Disponível em: . Acesso em: 18 ago. 2007.

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